Por Luke Baker
DAVOS, Suíça (Reuters) - O mundo precisa se preparar para um aumento de refugiados, com potencialmente milhões de pessoas sendo deslocadas de suas casas pelo impacto das mudanças climáticas, afirmou nesta terça-feira o Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados.
Em declarações à Reuters no Fórum Econômico Mundial, Filippo Grandi disse que uma decisão da ONU nesta semana significa que aqueles que fogem por causa da mudança climática têm de ser tratados pelos países receptores como refugiados, com amplas implicações para os governos.
O Comitê de Direitos Humanos da ONU tomou a decisão histórica na segunda-feira em relação a Ioane Teitiota, de Kiribati, localizado no Pacífico, que abriu um processo contra a Nova Zelândia depois que as autoridades negaram sua reivindicação de asilo.
"A decisão diz que se você tem uma ameaça imediata à sua vida devido à mudança climática, por emergência climática, e se você cruzar a fronteira e for para outro país, não deverá ser enviado de volta, porque estaria em risco de vida, como em uma guerra ou em uma situação de perseguição", disse Grandi.
"Precisamos estar preparados para uma grande onda de pessoas se movendo contra sua vontade", afirmou. "Eu não ousaria falar sobre números específicos, é muito especulativo, mas certamente estamos falando de milhões aqui."
Potenciais fatores incluem incêndios florestais como os vistos na Austrália, aumento do nível do mar que afeta ilhas baixas, destruição de colheitas e gado na África subsaariana e inundações em todo o mundo, inclusive em partes do mundo desenvolvido.
Na maior parte dos seus 70 anos, o Acnur, agência de refugiados da ONU, trabalha para ajudar os países mais pobres em consequência de conflitos, porém as mudanças climáticas são mais indiscriminadas, o que significa que países mais ricos podem se tornar uma fonte crescente de refugiados.
"É mais uma prova de que os movimentos de refugiados e a questão mais ampla da migração de populações... são um desafio global que não pode ser confinado a alguns países", afirmou Grandi.
O Acnur, cujo orçamento subiu de 1 bilhão de dólares por ano no início dos anos 1990 para 8,6 bilhões de dólares em 2019, com conflitos no Iraque, Afeganistão e Síria obrigando civis a fugirem, ajuda agora mais de 70 milhões de pessoas deslocadas à força em todo o mundo.
A Turquia é o maior destinatário, com mais de 4 milhões de refugiados e requerentes de asilo, a grande maioria da Síria. Isso pressionou as finanças públicas da Turquia e levou o presidente Tayyip Erdogan a exigir mais assistência da Europa.