Por Michel Rose e Julien Pretot
PARIS (Reuters) - Quando as primeiras pessoas propuseram para o então chefe da polícia de Paris a ideia sem precedentes de realizar a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2024 no rio Sena, ele foi contrário de cara.
“É loucura”, disse Didier Lallement em 2021, de acordo com duas fontes, citando os enormes desafios logísticos e de segurança para realizar evento tão ambicioso em uma cidade que, em 2015, fora marcada por uma série de ataques de militantes islâmicos que resultaram na morte de 130 pessoas.
Com o espetacular desfile flutuante que ocorrerá no Sena na noite de sexta-feira, o presidente do país, Emmanuel Macron, espera que o ceticismo de Lallement se prove sem fundamento.
“No começo, parecia ser uma ideia maluca e não muito séria”, afirmou Macron na segunda-feira a repórteres estrangeiros presentes ao Palácio do Eliseu. “Mas decidimos que era o momento certo de realizar a tal ideia maluca e transformá-la em realidade.”
A França lançou sua maior operação de segurança da história para proteger a Olimpíada e sua incrível cerimônia de abertura. Autoridades dizem que não há ameaças reais aos Jogos, mas que até agora já frustraram duas supostas tentativas de ataques.
Até 3 bilhões de pessoas devem assistir à cerimônia de abertura, na qual atletas navegarão por quase 6 quilômetros pelo rio Sena, tendo como pano de fundo um dos mais incríveis cenários do planeta.
A organização tem mantido os planos para a cerimônia de abertura como segredo, mas Thomas Jolly, diretor artístico do evento, falou nesta semana sobre “um grande afresco” celebrando “a relação que Paris e a França mantêm com o mundo.”
O atual gabinete de Lallement, o Secretariado Geral do Mar, não quis comentar sobre o tema.
Ainda não se sabe como correrá a cerimônia, mas já houve uma grande batalha: conseguir convencer a todos que a ideia proposta a Macron em 2019 pelo chefe do Comitê Paris-2024, Tony Estanguet, deveria ser posta em prática.
A ideia veio de Estanguet, tricampeão olímpico de canoagem, depois de ele ter assistido à cerimônia de abertura da Olimpíada da Juventude de 2018, um evento realizado nas ruas de Buenos Aires com mais de 200 mil participantes, disseram seus assessores.
O ex-atleta queria que Paris-2024 “jogasse fora o livrinho de regras”, então pediu ao diretor-executivo do comitê, Thierry Reboul, ex-chefe de marketing da companhia aérea Air France e que comandará a cerimônia de abertura, para apresentar uma ideia que fosse original.
A inspiração veio em 2019, quando Reboul passeava pelo rio.
A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, disse à Reuters que ela comprou a ideia desde o início. Mas nem todos concordaram. Além de Lallement, sindicatos de policiais também eram contrários à arriscada abertura no rio, de acordo com autoridades.
Macron, contudo, foi seduzido imediatamente: “Eu não quero saber o que você pensa, eu quero saber como podemos fazer isso”, disse Macron, de acordo uma fonte próxima a ele.
O presidente prometeu dar reforços à polícia. Ele também encomendou um “relatório de viabilidade”, que concluiu em 2021 que o Sena era um possível cenário para a abertura, desde que sob duas condições: menos espectadores e mais policiais.
No fim daquele ano, o político anunciou a ideia ao público, para garantir que não se poderia voltar atrás, disse a fonte, assegurando que há planos substitutos caso a ideia original seja inexequível.
Muitas delegações estrangeiras foram céticas e algumas até ameaçaram cancelar suas participações, disse outra fonte francesa. “Elas foram informadas de que nenhuma pedra deixaria de ser checada”, afirmou a fonte, acrescentando que as autoridades estão super zelosas, destacando 45 mil policiais para garantir a segurança do evento. Isso é mais do que o triplo do contingente usado na celebração do Dia da Bastilha.
Hidalgo, uma socialista que raramente elogia o governo pró-mercado de Macron, teve de trabalhar com o ministro do Interior, o conservador Gerald Darmanin, para possibilitar uma cerimônia memorável: “Eu disse a ele: ou vencemos juntos, ou falhamos juntos”, afirmou a política à Reuters.
(Reportagem de Michel Rose e Julien Pretot)