Por Patricia Zengerle e David Morgan
WASHINGTON (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, solicitou interferência externa para aumentar suas chances de reeleição no ano que vem, prejudicou a segurança nacional e ordenou uma campanha "sem precedentes" para obstruir o Congresso, disseram democratas nesta terça-feira em um relatório que comporá a base do processo formal de impeachment contra Trump.
Em um relatório de 300 páginas que fez acusações sobre amplo abuso de poder, o Comitê de Inteligência da Câmara dos Deputados, liderado pelos democratas, disse que Trump utilizou uma verba de auxílio militar dos Estados Unidos e a perspectiva de uma visita à Casa Branca para pressionar sua contraparte ucraniana a abrir investigações que poderiam beneficiar Trump politicamente.
O presidente republicano "colocou seus interesses pessoais e políticos acima dos interesses nacionais dos Estados Unidos, buscou prejudicar a integridade do processo eleitoral presidencial norte-americano e colocou em perigo a segurança nacional do país", disse o relatório.
Os democratas, que iniciaram o processo formal de impeachment em setembro, também acusaram Trump de iniciativas "sem precedentes" para obstruir a investigação, incluindo a recusa em providenciar documentos e depoimentos de seus principais conselheiros, tentativas mal-sucedidas de bloquear autoridades de carreira do governo de depor e intimidação de testemunhas.
"Donald Trump é o primeiro presidente na história dos Estados Unidos a buscar uma obstrução completa de uma investigação de impeachment conduzida pela Câmara dos Deputados", disse o documento.
Trump, que está em Londres para uma cúpula da Otan, nega qualquer irregularidade e acusa os democratas de utilizarem o processo de impeachment para reverter os resultados das eleições presidenciais de 2016. Pesquisas de opinião mostram que os americanos estão profundamente divididos sobre o impeachment do presidente republicano.
A porta-voz da Casa Branca Stepanhie Grisham disse que os democratas liderados pelo presidente do Comitê de Inteligência Adam Schiff haviam conduzido uma "farsa de processo unilateral" que havia fracassado em produzir quaisquer evidências de irregularidades cometidas por Trump.
"Esse relatório não reflete nada além de suas frustrações. O relatório do presidente Schiff parece uma série de divagações de um blogueiro em um porão, se esforçando para provar alguma coisa quando não há evidências de nada", disse Grisham em nota.
O ponto central do processo de impeachment é a possibilidade de Trump ter abusado do poder de seu cargo para forçar a Ucrânia a investigar o ex-vice-presidente Joe Biden, um dos principais pleiteantes à nomeação dos democratas para enfrentar Trump nas eleições presidenciais de 2020.
Parlamentares e o público ouviram os depoimentos de funcionários e ex-funcionários de que o auxílio militar foi suspenso para a Ucrânia, e que uma reunião com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, foi condicionado à realização de uma investigação por Kiev, além de uma teoria desacreditada sobre a interferência ucraniana nas eleições norte-americanas de 2016.
O comitê de Inteligência da Câmara deve ser reunir às 18 horas no horário local para votar o relatório.
O assunto irá então para o Comitê Judiciário da Câmara, que abrirá os procedimentos na quarta-feira.
Se a Câmara eventualmente aprovar formalmente as acusações de impeachment no plenário, um julgamento será conduzido pelo Senado, liderado pelos republicanos, onde uma maioria de dois terços dos presente seria necessária para condenar Trump e demovê-lo do cargo.
(Reportagem de Richard Cowan, David Morgan, Patricia Zengerle, Jonathan Landay, Susan Cornwell, Susan Heavey, Doina Chacu e Mark Hosenball em Washington)