Por Eyanir Chinea e Andreína Aponte
CARACAS (Reuters) - Deputados opositores da Venezuela deixaram nesta terça-feira no quartel da Guarda Nacional em Caracas caixões de papelão e sacolas pretas repletas de papel simulando cadáveres, depois de agentes da divisão militar terem sido detidos por disparar contra manifestantes.
Ao menos três membros da Guarda Nacional – uma das forças encarregadas de conter os protestos contra o governo do presidente Nicolás Maduro – foram captados em vídeo por veículos de mídia locais aparentemente disparando contra jovens que os haviam perseguido segundos antes, durante uma manifestação de opositores.
Um deles, de 17 anos, morreu depois de receber um disparo no tórax, disse o Ministério Público. Ao menos outras quatro pessoas foram feridas por armas de fogo.
As autoridades disseram ter detido ao menos dois dos envolvidos.
"Não podem continuar assassinando os jovens venezuelanos na rua", disse o deputado opositor Tomás Guanipa em frente à sede da Guarda Nacional. Os legisladores, que se vestiram de preto, também levavam fotos do momento em que um dos agentes uniformizados aponta contra os manifestantes.
"Estes são delitos de lesa humanidade que não prescrevem. De novo voltamos a fazer um chamado àsForça Armada nacional para que não continue reprimindo o povo venezuelano, para que entenda que não pode ser o guarda-costas dos que estão contra a Constituição", acrescentou.
Mais tarde, em um ato público, Maduro substituiu o chefe da Guarda Nacional, o major-general Antonio Benavides, pelo major-general Sergio Rivero, sem explicar a troca, no momento em que a corporação vem sendo fortemente criticada pela repressão usada contra os protestos de opositores.
"Vamos obter a paz, que é nossa meta", disse ao novo encarregado da polícia militar.
O mandatário ainda ratificou como ministro da Defesa o general Vladimir Padrino, que também recebeu críticas por ser responsável pelas Forças Armadas venezuelanas.
A oposição completou 80 dias de manifestações nas ruas na segunda-feira e disse que continuará protestando até que atendam suas principais exigências: eleições presidenciais antecipadas, respeito aos direitos humanos e a libertação de mais de uma centena de "presos políticos".
O presidente argumenta que os protestos, em meio aos quais já morreram 75 pessoas, só visam depô-lo. Maduro vem insistindo em sua campanha para instalar uma Assembleia Nacional Constituinte com o objetivo de modificar a carta magna e reformar as instituições do Estado.
(Reportagem adicional de Diego Oré)