Por Robin Emmott e Andreas Rinke
WATFORD, Inglaterra (Reuters) - Líderes da Otan deixaram de lado insultos públicos que vão de "delinquente" a "morte cerebral", nesta quarta-feira, declarando na cúpula do 70º aniversário que vão se unir contra uma ameaça comum da Rússia e se preparar para a ascensão da China.
Autoridades insistiram que a cúpula foi um sucesso: notavelmente, o presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, recuou de uma ameaça aparente de bloquear os planos de defesa do norte e leste da Europa, a menos que os aliados declarassem combatentes curdos na Síria como terroristas.
Mas a reunião começou e terminou em uma animosidade alarmante, mesmo para a era do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que na chegada afirmou que o presidente francês é "desagradável" e na saída chamou o primeiro-ministro do Canadá de “duas caras" por zombar dele.
"Conseguimos superar nossas divergências e continuar cumprindo nossas principais tarefas de proteger e defender um ao outro", afirmou o sempre otimista secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, em entrevista coletiva.
Em uma declaração conjunta, os líderes disseram: "As ações agressivas da Rússia constituem uma ameaça à segurança euro-atlântica; o terrorismo em todas as suas formas e manifestações continua sendo uma ameaça persistente para todos nós".
A cúpula de meio dia em um resort de golfe nos arredores de Londres tinha a expectativa de ser complicada. Autoridades esperavam evitar a animosidade ocorrida na reunião do ano passado, quando Trump se queixou de aliados que não carregavam o peso da segurança coletiva.
Mas a reunião deste ano foi dificultada ainda mais por Erdogan, que lançou uma incursão na Síria e comprou mísseis russos contra as objeções de seus aliados, e pelo presidente francês Emmanuel Macron, que descreveu a estratégia da aliança como morte cerebral em uma entrevista no mês passado.
Em público, parecia pior do que o esperado, começando na terça-feira quando Trump considerou os comentários de Macron como "muito, muito desagradáveis" e descreveu aliados que gastam muito pouco em defesa como "delinquentes" - um termo que autoridades disseram que Trump usou novamente na quarta-feira, a portas fechadas, durante a cúpula.
Na recepção do Palácio de Buckingham, na noite de terça-feira, Justin Trudeau, do Canadá, foi flagrado pelas câmeras com Macron, o britânico Boris Johnson e o holandês Mark Rutte rindo das longas aparições de Trump na imprensa.
Quando a cúpula terminou na quarta-feira, Trump decidiu não realizar uma entrevista coletiva final, dizendo que já havia falado o suficiente. "Ele tem duas caras", disse Trump sobre Trudeau.
RISCO DE SEGURANÇA HUAWEI
No entanto, autoridades disseram que decisões importantes foram tomadas, incluindo um acordo para garantir a segurança das comunicações, incluindo novas redes de telefonia móvel 5G. Os Estados Unidos querem que os aliados proíbam equipamentos da maior fabricante de equipamentos de telecomunicações do mundo, a empresa chinesa Huawei.
"Eu acho que é um risco à segurança, é um perigo à segurança", disse Trump em resposta a uma pergunta sobre a Huawei, embora a declaração dos líderes não tenha se referido à empresa pelo nome.
"Falei com a Itália e eles parecem que não vão avançar com isso. Falei com outros países, eles não vão avançar", afirmou ele sobre contratos com a Huawei.
Antes da cúpula, Johnson - o anfitrião britânico que enfrenta uma eleição na próxima semana e optou por evitar fazer aparições públicas com Trump - apelou pela unidade. “Claramente, é muito importante que a aliança permaneça unida", disse ele.
"Mas há muito mais que nos une do que nos divide".
(Reportagem de Andreas Rinke, John Chalmers e Johnny Cotton em Watford, e Estelle Shirbon em Londres)