Por Victoria Klesty
OSLO (Reuters) - O desmatamento da floresta amazônica está sob ameaça de acelerar e atrair uma crescente preocupação global, uma vez que nenhuma nova medida de prevenção de incêndios foi tomada no período crucial para a estação seca deste ano, de acordo com Tasso Azevedo, coordenador do grupo MapBiomas, que monitora a taxa de destruição da floresta.
"Espera-se que seja pior que no ano passado, a menos que algo realmente grande aconteça nos próximos dois ou três meses para evitar a alta temporada de desmatamento que começa em maio", disse Azevedo à Reuters em Oslo nesta quarta-feira.
O desmatamento no Brasil, lar da maior parte da floresta amazônica, atingiu seu ponto mais alto em mais de uma década em 2019, o primeiro ano de mandato do presidente Jair Bolsonaro.
O número de incêndios na floresta amazônica aumentou 30,5% em 2019 em relação ao ano anterior, enquanto o desmatamento aumentou 85%, de acordo com dados recentes divulgados pelo Inpe.
A Amazônia, maior floresta tropical do mundo, é um bastião contra o aquecimento global por causa das vastas quantidades de dióxido de carbono que absorve da atmosfera. Também fornece energia hidrelétrica ao Brasil e suas abundantes chuvas possibilitam uma agricultura livre de irrigação.
Bolsonaro disse que seu governo está protegendo a floresta tropical adequadamente, mas planeja avançar com o desenvolvimento econômico da Amazônia para elevar o padrão de vida de seus 30 milhões de habitantes, incluindo tribos indígenas. Atualmente, o presidente está elaborando uma lei que abrirá reservas indígenas à mineração comercial e à agricultura, uma medida que ambientalistas dizem que irá acelerar o desmatamento.
Os riscos para a floresta provocaram protestos públicos em agosto, quando houve incêndios na Amazônia, provocando fortes críticas do presidente da França, Emmanuel Macron. Mas o governo ainda precisa adotar medidas para evitar incêndios em 2020, disse Azevedo.
"Não há orçamento... se você deseja evitar incêndios, precisa começar agora, tudo precisa ser feito na primeira metade do ano", afirmou.
A MapBiomas é uma colaboração entre universidades, grupos sem fins lucrativos e empresas de tecnologia para monitorar o desmatamento, partindo de várias fontes diferentes, incluindo dados do Inpe.
Em agosto, a Noruega suspendeu doações para o Fundo Amazônia, que apoia projetos para conter o desmatamento no Brasil depois que o governo tentou alterar as regras de governança do fundo para decidir quais projetos ele apoia.
A Noruega tem trabalhado em estreita colaboração com o Brasil para proteger a floresta amazônica há mais de uma década e pagou cerca de 1,2 bilhão de dólares ao fundo.
"(O governo) estragou algo que estava funcionando", disse Azevedo sobre o corte no financiamento norueguês. "Minha opinião é que eles estavam tentando... impedir que o dinheiro fosse para a sociedade civil e queriam usá-lo eles mesmos, para controlar o fundo."
(Reportagem adicional de Anthony Boadle, em Brasília)