Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Em meio a mais um impasse que paralisa o Mercosul, diplomatas de alto escalão de Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai se reunirão na quinta-feira no Uruguai para tentar uma solução para a presidência do bloco que não envolva aceitar a presidência pro tempore da Venezuela, disseram à Reuters fontes do governo brasileiro.
Na semana passada, o Uruguai declarou que estava deixando a presidência do bloco, enquanto o governo venezuelano afirmava que estava assumindo o posto, seguindo a rotação por ordem alfabética que rege as presidências pro tempore, mas apenas o Uruguai aceitou a declaração da Venezuela.
O impasse sobre a presidência do bloco paralisa o Mercosul há pelo menos dois meses. Aliado à Argentina e ao Paraguai, o Brasil articula para evitar que o governo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, assuma o cargo.
Nos últimos encontros de chanceleres levantou-se a possibilidade de suspender a Venezuela do Mercosul por não cumprir os requisitos de adesão ao bloco dentro do prazo de quatro anos.
Seria uma solução mais palatável do que simplesmente recorrer à cláusula democrática, o que certamente enfrentaria a resistência do Uruguai.
As alternativas que serão analisadas pelos diplomatas são suspender a Venezuela e passar a presidência à Argentina ou, se essa medida não tiver consenso, ignorar a Venezuela e manter a coordenação do bloco nas mãos do conselho permanente de ministros, órgão colegiado do Mercosul.
“A chave é convencer o Uruguai”, disse à Reuters uma fonte diplomática, lembrando que qualquer decisão precisa ser tomada por consenso.
Na próxima sexta-feira, durante o coquetel de recepção aos chefes de Estado que vêm para a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, o presidente interino Michel Temer irá continuar as negociações com os presidentes da Argentina, Maurício Macri, e do Paraguai, Horácio Cartes. No entanto, o presidente do Uruguai, Tabaré Vasquez, que precisa ser convencido a isolar a Venezuela, não estará no Rio.
Inicialmente mais diplomático nas afirmações e agressivo nos bastidores, o governo brasileiro vem aumentando o tom contra a Venezuela.
Na última sexta-feira, o ministro das Relações Exteriores, José Serra, divulgou uma carta entregue às chancelarias dos países do Mercosul afirmando que o governo brasileiro “entende que se encontra vaga a presidência pro tempore do Mercosul, uma vez que não houve decisão consensual a respeito de seu exercício no período semestral subsequente”.
“A decisão unilateral de encerrar a presidência pro tempore gera incerteza e impõe a necessidade de adoção de medidas pragmáticas para permitir o funcionamento do Mercosul. A sugestão argentina de estabelecimento de um mecanismo transitório de coordenação coletiva é medida construtiva que merece ser considerada”, continua o texto.
Na noite de terça, ao sair de um evento em um centro universitário, em Brasília, Serra afirmou que Maduro não tem condições de presidir o bloco.
“O presidente da Venezuela não tem condições para assumir a presidência do Mercosul. Primeiro porque a Venezuela não cumpriu as exigências existentes, os pré-requisitos para integrar o Mercosul. Segundo, porque, evidentemente, alguém que não consegue governar o seu país não vai poder levar o Mercosul para um bom caminho”, disse.
A Venezuela vive uma crise econômica e política marcada pelo desabastecimento de alimentos e de produtos básicos.