Por Natalia A. Ramos Miranda e Fabian Cambero
SANTIAGO (Reuters) - Para muitos na Plaza Italia de Santiago, o marco zero dos protestos em massa que ardem há meses no Chile, o caos parecia interminável. Confrontos sangrentos com forças policiais, gás lacrimogêneo, vândalos encapuzados, vitrines destruídas e pichações eram acontecimentos diários.
Então o coronavírus chegou.
A praça central da cidade de 6 milhões de habitantes, batizada de "Praça da Dignidade" pela multidão de manifestantes raivosos que se reúne no local na maioria das noites e dos finais de semana, silenciou. Nas noites de sexta-feira e sábado, os poucos manifestantes remanescentes foram alvo de motoristas que gritavam para que fossem para casa.
"Primeiro precisamos ficar vivos, depois continuamos tentando mudar o mundo", afirmou Enrique Cruz, vendedor de rua que disse que apoia a causa, mas admitiu que é hora de colocá-la em suspenso.
Embora o Chile ainda não tenha declarado uma interdição total, as autoridades fecharam bares, danceterias e restaurantes na semana passada. No domingo, um toque de recolher noturno entrou em vigor.
Os casos de coronavírus do Chile ultrapassaram 600 no vigésimo dia do surto, e aparentemente suplantaram da noite para o dia as discussões sobre pensões e salários defasados e o alto custo do transporte público que dominaram os debates nos últimos tempos.