Por Emma Farge
GENEBRA (Reuters) - A Coreia do Norte, que está sob sanções por desenvolver armas nucleares em desafio às resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, assumiu a chefia de um órgão da ONU destinado a fechar acordos de desarmamento em meio ao desprezo de críticos.
Este ano, a Coreia do Norte testou mísseis balísticos --também proibidos pelas resoluções do Conselho de Segurança da ONU-- e parece estar se preparando para realizar um novo teste nuclear pela primeira vez desde 2017.
O país assumiu a presidência da Conferência sobre Desarmamento porque a mesma tem rodízio em ordem alfabética entre seus 65 membros.
"A RPDC (República Popular Democrática da Coreia) continua comprometida em contribuir para a paz e o desarmamento globais e atribui importância ao trabalho da conferência", disse o embaixador Han Tae Song na reunião de Genebra, dizendo que é uma "honra e um privilégio" ocupar o cargo.
A Coreia do Norte disparou vários mísseis na semana passada, incluindo um que se acredita ser seu maior míssil balístico intercontinental.
Embaixadores ocidentais se revezaram para condenar as ações de Pyongyang nesta quinta-feira, com a Austrália descrevendo-as como "desestabilizadoras".
No entanto, eles não atenderam a um pedido para sair da reunião, conforme solicitado por dezenas de ONGs, disseram testemunhas. Em vez disso, algumas missões diplomáticas enviaram representantes de nível inferior do que os embaixadores que normalmente deveriam comparecer.
A reação geral do plenário foi vista pelos observadores como leve em comparação com a reação à presidência da Síria do mesmo órgão em 2018. Durante aquela reunião, o Canadá leu os relatos de sobreviventes de um ataque químico sírio em protesto.
Hillel Neuer, diretor-executivo da UN Watch, que monitora o desempenho do órgão global, disse que a presidência da Coreia do Norte "minará seriamente a imagem e a credibilidade das Nações Unidas".
As expectativas para esta série de reuniões sob a presidência de Pyongyang de qualquer modo eram baixas. A Conferência sobre Desarmamento --o único fórum multilateral do mundo para o desarmamento-- não chega a um acordo desde o Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares em 1996.
"Isso só pode destacar a irrelevância da CD no contexto atual", disse Marc Finaud, especialista do Centro de Política de Segurança de Genebra, sobre o papel da Coreia do Norte.
(Reportagem de Emma Farge; reportagem adicional de Josh Smith em Seul)