Por Andrei Makhovsky e Polina Devitt
MINSK/MOSCOU (Reuters) - Os líderes da Rússia e de Belarus concordaram neste sábado que problemas em Belarus devem ser resolvidos "em breve", disse o Kremlin, enquanto dezenas de milhares de pessoas tomam as ruas de Minsk mais uma vez para pedir a renúncia do presidente Alexander Lukashenko.
Acusado de fraude na eleição do domingo passado, Lukashenko havia feito um apelo ao presidente russo, Vladimir Putin, uma vez que o líder bielorrusso enfrenta o maior desafio em seus 26 anos de governo e a ameaça de novas sanções ocidentais.
Os laços entre os dois tradicionais aliados já haviam sido colocados sob tensão antes da eleição, pois a Rússia recentemente reduziu os subsídios que sustentavam o governo de Lukashenko. A Rússia vê Belarus como uma proteção estratégica contra a OTAN e a União Europeia.
As declarações de ambos os lados continham uma referência direta a um "estado de união" entre os dois países. Lukashenko já havia rejeitado os apelos de Moscou por laços econômicos e políticos mais estreitos classificando-os como um ataque à soberania de seu país.
"Ambos os lados expressaram confiança de que todos os problemas que surgiram serão resolvidos em breve", revelou um comunicado do Kremlin depois que Lukashenko e Putin conversaram por telefone.
“Esses problemas não devem ser explorados por forças destrutivas que buscam prejudicar a cooperação mutuamente benéfica entre os dois países no âmbito do estado de união”, acrescentou.
A União Europeia prepara-se para impor novas sanções a Belarus em resposta à violenta repressão no país, com pelo menos dois manifestantes mortos e milhares detidos.
Em uma visita à vizinha Polônia, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, disse que Washington está monitorando a situação de perto.
Os líderes de Estônia, Letônia e Lituânia conclamaram Belarus a realizar novas eleições "livres e justas".
Lukashenko disse que não precisa de governos ou mediadores estrangeiros para resolver a situação no país, informou a agência de notícias estatal Belta.
"Não vamos dar o país a ninguém", disse ele.
Dezenas de milhares foram às ruas da capital bielorrussa no sábado. Multidões se reuniram para depositar flores onde um dos manifestantes foi morto esta semana, agitando bandeiras e gritando "vá embora" e "Lukashenko é um assassino".
INTROMISSÃO EXTERNA
Lukashenko acusou os manifestantes de serem criminosos e de praticarem conluio com agitadores estrangeiros. Antes de sua conversa com Putin no sábado, ele sugeriu que o impacto dos protestos poderia se espalhar além das fronteiras de Belarus.
Moscou também acusou nesta semana países não identificados de "intromissão externa" em Belarus.
"É necessário entrar em contato com Putin para que eu possa falar com ele agora, porque não é mais uma ameaça apenas para Belarus", disse Lukashenko, segundo a agência de notícias Belta.
"Defender Belarus hoje não é menos do que defender todo o nosso espaço, o estado de união... Aqueles que vagam pelas ruas, a maioria não entende isso."
A candidata presidencial da oposição Sviatlana Tsikhanouskaya, que fugiu para a vizinha Lituânia na terça-feira, pediu mais protestos e um recall das eleições.
Sua campanha anunciou que ela estava começando a formar um conselho nacional para facilitar a transferência de poder.
Lukashenko alertou na sexta-feira os bielorrussos para ficarem em casa e assim evitarem se tornar "bucha de canhão".
A Rússia tem estado atenta à agitação em suas fronteiras desde a queda dos governos na Revolução Rosa de 2003 na Geórgia, na Revolução Laranja na Ucrânia em 2003-04 e nos protestos de Maidan em Kiev em 2014 - eventos em que afirma que o Ocidente apoiou os manifestantes.
Aos 65 anos, Lukashenko, que já administrou uma fazenda estatal soviética, enfrenta oposição crescente por conta de sua forma de lidar com a pandemia do coronavírus, bem como a crise na economia e o enfraquecimento dos direitos.