Por Philip Pullella
HIROSHIMA, Japão (Reuters) - O Papa Francisco levou neste domingo sua campanha para abolir armas nucleares às duas únicas cidades atingidas por bombas atômicas, classificando a posse de tais armas como indefensamente perversa e imoral e seu uso como crime contra a humanidade e a natureza.
Francisco visitou o marco zero de Hiroshima e o de Nagasaki, ambos queimados na consciência coletiva do mundo depois das bombas lançadas pelos Estados Unidos por três dias em agosto de 1945, em um esforço para terminar a Segunda Guerra Mundial.
"Aqui, em uma explosão incandescente de raios e fogo, tantos homens e mulheres, tantos sonhos e esperanças desapareceram, deixando para trás apenas sombras e silêncio", disse Francisco no Memorial da Paz de Hiroshima, depois de ficar em oração silenciosa e ouvir um relato angustiante de um sobrevivente.
Yoshiko Kajimoto, que tinha 14 anos na época, lembrava "pessoas caminhando lado a lado como fantasmas, pessoas cujo corpo todo estava tão queimado que eu não sabia a diferença entre homens e mulheres, com os cabelos em pé, os rostos inchados a ponto de dobrarem de tamanho, os lábios soltos, com as duas mãos estendidas com a pele queimada pendurada neles."
"Ninguém neste mundo pode imaginar tal cena do inferno", disse ela.
Mais de 100 mil pessoas morreram instantaneamente nos ataques e cerca de outras 400 mil perderam a vida nos meses, anos e décadas subsequentes vítimas de doenças ou radiações.
"Com profunda convicção, desejo mais uma vez declarar que o uso da energia atômica para fins de guerra é hoje, mais do que nunca, um crime não apenas contra a dignidade dos seres humanos, mas contra qualquer futuro possível para nosso lar comum", afirmou o Papa em Hiroshima.
"O uso da energia atômica para fins de guerra é imoral, assim como a posse de armas nucleares é imoral, como eu já disse há dois anos."