Por Daniel Trotta
(Reuters) - Anos antes de se tornar presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel defendeu maior acesso do público à internet, em um momento no qual ela era disponível apenas a uma pequena minoria. Ele teria sucesso em conectar a maioria do país.
Agora, no outro lado do Estreito da Flórida, seus adversários na comunidade de exilados cubanos de Miami estão aproveitando o acesso de Cuba à internet.
O governo cubano acusou sites independentes, a maioria sediados em Miami, de terem provocado os protestos sem precedentes e espontâneos que se espalharam por cuba uma semana atrás.
Um desse sites, o ADN Cuba, deixa clara a sua cobertura contra o governo de Havana em todos os cantos. Recentemente, publicou uma foto de Díaz-Canel alterada para parecer uma foto de polícia. "Genocídio", dizia embaixo.
A sua cobertura dos protestos se concentrou em pessoas feridas ou detidas. Durante dias, o site destacou uma reportagem sobre o sobrinho de um líder sênior do Partido Comunista que pediu à sua família e ao governo que "abaixassem as armas" e "ouvissem o povo". Outra manchete informava que manifestantes no leste de Cuba gritaram "assassino" ao vice-primeiro ministro Ramiro Valdés.
Cerca de uma dúzia de noticiários e revistas focados em Cuba tiveram seus sites bloqueados no país, mas cubanos podem acessá-los usando redes virtuais privadas (VPN) e compartilhá-los nas redes sociais, geralmente disponíveis em Cuba.
Embora seja difícil medir o impacto de sites sediados nos EUA nos protestos recentes em Cuba, o governo cubano certamente os considera uma ameaça.
O ministro das Relações Exteriores, Bruno Rodríguez, dedicou boa parte de uma entrevista coletiva semana passada a críticas ao ADN Cuba e dois jornalistas, também condenando uma hashtag de redes sociais impulsionada por bots.
(Por Daniel Trotta em Carlsbad, California; reportagem adicional de Nelson Acosta em Havana)