Por Clement Rossignol
BRUXELAS (Reuters) - O fundador da Frente Nacional (FN) da França, Jean-Marie Le Pen, prometeu permanecer na política até morrer, reiterando, em entrevista à Reuters, comentários que mostram que não está se afastando de uma briga de família que vem complicando a meta da extrema direita de chegar ao poder no país.
Na sequência das observações que fez na semana passada sobre as câmaras de gás nazistas e o líder francês nos tempos da guerra, Philippe Pétain, que desencadearam uma crise dentro da Frente Nacional, o ex-paraquedista, de 86 anos, reiterou sua defesa de Pétain.
Le Pen, que presidiu a FN por décadas até entregar o controle do partido à filha, Marine, em 2011, disse que Pétain, cujo governo participou do envio de judeus para campos de concentração nazistas, teve a legitimidade de ser apoiado pelo Parlamento na época.
"Por isso, não acho de modo algum que o marechal Pétain tenha sido um traidor. Acho que ele foi punido com muita severidade. Achei uma injustiça", disse.
Enquanto seu pai ficava satisfeito em atrair votos de protesto, sem buscar o poder, Marine Le Pen tenta livrar o partido anti-imigrantes de sua imagem antissemita e ampliar seu poder de captar votos, já que se prepara para concorrer à Presidência francesa em 2017.
Ao fazer isso, um de seus obstáculos tem sido a forma de lidar com seu pai, que fala abertamente o que pensa e usa seu título de presidente honorário do partido para provocar controvérsias no debate político francês.
Ele concordou na segunda-feira em desistir de se candidatar pelo partido em eleições regionais, após provocar polêmica na semana passada ao defender comentários feitos no passado, quando disse que as câmaras de gás nazistas foram um "detalhe da história".
Embora essa decisão tenha aliviado um pouco a situação para a FN, ele insistiu na entrevista à Reuters que não vai acatar a outra demanda de sua filha: sair completamente da política.
"Eu vou ser um membro do Parlamento Europeu por mais quatro anos, então, não vou me aposentar em tudo", disse em uma entrevista em seu gabinete parlamentar da UE em Bruxelas. "Eu vou até o fim ou até o momento em que o 'Chefe' me chamar de volta."
Questionado sobre a possibilidade de ser alvo de sanções quando a liderança de seu partido se reunir nas próximas semanas para discutir seus comentários sobre a Segunda Guerra Mundial, Le Pen, que ainda desfruta de grande apoio entre os veteranos do partido, fez pouco caso.
"Não consigo imaginar quem na Frente Nacional pode pensar em sancionar o fundador, que, por 40 anos, liderou o partido político ao qual eles devem ter aderido há dois ou três anos. Isso é risível. E eles precisam de um motivo. Qual motivo? Por eu ter dado uma entrevista a um jornal? Isso não pode ser sério", disse ele.
As pesquisas sugerem que sua filha poderia chegar ao segundo turno da eleição presidencial, mas é improvável que ganhe.
(Reportagem de Ingrid Melander)