Por Paul Carrel
BERLIM (Reuters) - O presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, está colocando em risco relações antigas e vitais com a Alemanha, disse o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schaeuble, em uma entrevista publicada nesta segunda-feira.
As relações, já tensionadas devido à repressão de segurança instaurada por Erdogan desde uma tentativa de golpe contra ele um ano atrás, se deterioraram ainda mais devido à prisão de seis ativistas de direitos humanos na Turquia, incluindo um alemão, duas semanas atrás.
"Ele está ameaçando a parceria de centenas de anos", disse Schaeuble a respeito de Erdogan.
"É dramático, já que realmente existem muitas coisas que nos conectam. Mas não podemos nos permitir ser chantageados", afirmou o ministro na entrevista ao diário Bild.
O chefe de gabinete da chanceler alemã, Angela Merkel, disse que o comportamento da Turquia é "inaceitável" e que a Alemanha tem o dever de proteger seus cidadãos e suas empresas, mas que também quer manter relações fortes.
Aumenta as tensões o fato de Ancara se recusar a permitir que parlamentares alemães visitem soldados posicionados em duas bases aéreas.
"Preocupa-me que tenhamos um país da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) que proíbe visitas de outros membros da Otan", disse Volker Kauder, líder do bloco conservador de Merkel no Parlamento, à emissora ARD.
"Esta é uma situação intolerável, e precisamos dizer claramente à Turquia: isto não funciona".
Indagado se as conversas sobre a filiação turca à União Europeia podem ter andamento, ou se as conversas sobre a atualização alfandegária entre os dois países continuam, Kauder respondeu: "Os dois pontos são, é claro, maneiras de pressionar a Turquia. Sabemos que a Turquia tem problemas econômicos consideráveis".
O presidente do Comitê de Defesa do Parlamento alemão, Wolfgang Hellmich, disse ao jornal Die Welt: "O governo deveria adotar uma postura clara e dizer: estamos estabelecendo um prazo para o final de agosto, depois deve haver uma decisão".
Por motivos históricos, as Forças Armadas da Alemanha estão sujeitas ao controle parlamentar, e Berlim insiste que os parlamentares tenham acesso aos seus soldados. A recusa turca de permitir que estes visitem uma base aérea levou Berlim a reposicionar as tropas na Jordânia.
Na tentativa de amenizar as tensões, Ancara disse que não está solicitando ajuda alemã para investigar empresas alemãs suspeitas de apoiarem o terrorismo, disse um porta-voz do Ministério do Interior da Alemanha.