A Espanha negou participação em uma suposta conspiração contra o presidente Nicolás Maduro (Partido Socialista Unido da Venezuela, esquerda) e solicitou nesta 2ª feira (16.set.2024) à Venezuela “informações oficiais e verificadas” sobre os 2 espanhóis presos em operação de autoridades venezuelanas.
Caracas acusa Madri de tentar “desestabilizar” o regime chavista, aumentando a tensão diplomática entre os países. Os países tiveram suas relações ainda mais estremecidas desde que o principal candidato opositor de Maduro nas eleições de 28 de julho, Edmundo González Urrutia (Plataforma Unitária Democrática, centro-direita), chegou a Espanha em exílio, em 8 de setembro.
Os espanhóis foram presos no sábado (14.set) junto a 3 norte-americanos e 1 tcheco. Mais de 400 armas também foram apreendidas. As informações são da AFP.
A Espanha exige informações sobre José María Basoa, 35 anos, e Andrés Martínez Adasme, 32 anos. A Venezuela acusa ambos de serem ligados ao CNI (Centro Nacional de Inteligência da Espanha), o que eles negam. A República Tcheca também cobrou detalhes sobre a detenção de Jan Darmovrzal, que não teve sua idade revelada.
Não há muitas informações sobre os norte-americanos que foram presos. A Venezuela divulgou apenas seus nomes: Estrella David, Aaron Barren Logan e Wilbert Josep Castañeda.
O país acusa Castañeda de liderar a “conspiração”. O ministro do Interior da Venezuela, Diosdado Cabello, afirma que ele teria servido ao Exército dos Estados Unidos durante os conflitos no Iraque e no Afeganistão, o que não é confirmado pelo governo norte-americano e nem por Castañeda.
A porta-voz do ministério das Relações Exteriores tcheco, Mariana Wernerova, confirmou que diplomatas estão coordenando uma resposta conjunta com os Estados Unidos e a Espanha.
VENEZUELA SOB MADURO
A Venezuela vive sob uma autocracia chefiada por Nicolás Maduro, 61 anos. Não há liberdade de imprensa. Pessoas podem ser presas por “crimes políticos”. A OEA publicou nota em maio de 2021 a respeito da “nomeação ilegítima” do Conselho Nacional Eleitoral. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos relatou abusos em outubro de 2022, novembro de 2022 e março de 2023. Relatório da Human Rights Watch divulgado em 2023 afirma que 7,1 milhões de venezuelanos fugiram do país desde 2014.
Maduro nega que o país viva sob uma ditadura. Diz que há eleições regulares e que a oposição simplesmente não consegue vencer.
As eleições presidenciais realizadas em 28 de julho de 2024 são contestadas por parte da comunidade internacional. A principal líder da oposição, María Corina, foi impedida em junho de 2023 de ocupar cargos públicos por 15 anos. O Supremo venezuelano confirmou a decisão em janeiro de 2024. Alegou “irregularidades administrativas” que teriam sido cometidas quando era deputada, de 2011 a 2014, e por “trama de corrupção” por apoiar Juan Guaidó.
Corina indicou a aliada Corina Yoris para concorrer. No entanto, Yoris não conseguiu formalizar a candidatura por causa de uma suposta falha no sistema eleitoral. O diplomata Edmundo González assumiu o papel de ser o principal candidato de oposição.
O Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, controlado pelo governo, anunciou em 28 de julho de 2024 a vitória de Maduro. O órgão confirmou o resultado em 2 de agosto de 2024, mas não divulgou os boletins de urnas. O Tribunal Supremo de Justiça venezuelano, controlado pelo atual regime, disse em 22 de agosto de 2024 que os boletins não serão divulgados.
O Centro Carter, respeitada organização criada pelo ex-presidente dos EUA Jimmy Carter, considerou que as eleições na Venezuela “não foram democráticas”.
Os resultados têm sido seguidamente contestados pela União Europeia e por vários países individualmente, como Estados Unidos, México, Argentina, Costa Rica, Chile, Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai. O Brasil não reconheceu até agora a eleição de Maduro em 2024, mas tampouco faz cobranças mais duras como outros países que apontam fraude no processo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou a dizer não ter visto nada de anormal no pleito do país.
A Human Rights Watch criticou os presidentes Lula, Gustavo Petro (Colômbia) e Andrés Manuel López Obrador (México) em agosto de 2024. Afirmaram em carta enviada os 3 ser necessário que reconsiderem suas posições sobre a Venezuela e criticaram as propostas dos líderes para resolver o impasse, como uma nova eleição e anistia geral.