GENEBRA (Reuters) - Crimes de guerra e crimes contra a humanidade ainda estão sendo cometidos na Etiópia quase um ano depois que governo e forças regionais de Tigré concordaram em acabar com os combates, disseram especialistas da ONU em um relatório publicado nesta segunda-feira.
Milhares de pessoas morreram no conflito de dois anos que chegou formalmente ao fim em novembro do ano passado. Ambos os lados se acusaram mutuamente de atrocidades, incluindo massacres, estupros e detenções arbitrárias, mas cada um negou a responsabilidade por abusos sistêmicos.
"Embora a assinatura do acordo possa ter silenciado as armas, não resolveu o conflito no norte do país, em particular em Tigré, nem trouxe uma paz abrangente", disse Mohamed Chande Othman, presidente da Comissão Internacional de Especialistas em Direitos Humanos na Etiópia, em uma declaração que acompanha o relatório.
Em seu relatório, a Comissão afirmou que as violações dos direitos humanos em Tigré são "graves e contínuas", e que houve ataques das Forças de Defesa da Eritreia (EDF (EPA:EDF)) contra civis.
A Eritreia, que enviou tropas para lutar ao lado das forças do governo etíope durante o conflito, rejeitou as acusações de moradores e grupos de direitos humanos de que seus soldados cometeram abusos em Tigré.
Em comentários à Reuters, o ministro da Informação da Eritreia, Yemane Ghebremeskel, descreveu a conclusão do relatório como difamatória e disse que o país estava preparando sua resposta formal.
Porta-vozes do Exército e do governo da Etiópia não responderam aos pedidos de comentários sobre o relatório.
Radhika Coomaraswamy, membro da comissão, descreveu a violência sexual ocorrida no conflito como sendo "a pior possível".
"Devo admitir que o pior foi aquele perpetrado pelas forças da Eritreia em Tigré. Embora, é claro, as forças etíopes também tenham sido responsáveis", disse ela, acrescentando que as forças de Tigré também haviam cometido violência sexual em Amhara.
O relatório da Comissão disse que as violações "foram incentivadas ou toleradas pelo governo federal", que, segundo o documento, falhou em seu dever de proteger a população.
(Reportagem de Gabrielle Tétrault-Farber em Genebra e Hereward Holland em Nairóbi)