CIDADE DO MÉXICO (Reuters) - Um grupo de especialistas da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que revisou a investigação sobre o desaparecimento e possível massacre de 43 estudantes no México, derrubou neste domingo a conclusão oficial de que os jovens foram incinerados em um lixão e reduzidos a cinzas.
A procuradoria-geral apresentou em janeiro o que classificou como "a verdade histórica" sobre os alunos, afirmando que foram confundidos com assassinos de uma facção do crime organizado da cidade de Iguala, no sul do país, assassinados e carbonizados no lixão do povoado vizinho de Cocula.
Os especialistas apontaram um grande número de falhas na investigação e afirmaram haver indícios de que os cinco detidos acusados de cometer o crime foram torturados, o que aumentará a pressão sobre o governo do presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, em um caso que despertou indignação dentro e fora do país.
Uma centena de estudantes de uma escola de agricultura de Ayotzinapa chegaram a Iguala em 26 de setembro para "capturarem" ônibus que iriam utilizar para comparecer a uma manifestação na capital quando foram atacados a bala por policiais municipais e matadores de aluguel.
Três morreram na noite dos ataques, os restos carbonizados de um deles foram identificados e 42 continuam desaparecidos.
"Não existe nenhum indício que apoie a hipótese, formulada com base nos testemunhos, de que 43 corpos foram cremados no lixão municipal de Cocula em 27 de setembro de 2014", declarou o comunicado final de quase 500 páginas do chamado Grupo Interdisciplinar de Especialistas Independentes (GIEI).
Os especialistas, entre os quais se encontra a procuradora-geral colombiana, Angela Buitrago, e a guatemalteca, Claudia Paz y Paz, solicitaram um parecer do especialista peruano José Torero – que participou dos estudos posteriores à queda das Torres Gêmeas em Nova York – , que determinou que não houve no local referido um incêndio grande o bastante para incinerar 43 corpos.
Os familiares dos jovens nunca acreditaram nas conclusões do então procurador-geral Jesús Murillo, que segundo advogados a par do caso tratou de encerrar um assunto que prejudicava o governo.
Na semana passada, uma investigação da Reuters mostrou que as análises estavam repletas de erros que obrigariam uma reformulação completa do caso.
(Por Lizbeth Díaz)