SÃO PAULO (Reuters) - "Ah, olha para toda essa gente solitária...", diz a letra da canção dos Beatles "Eleanor Rigby", ecoada pelo diretor e roteirista Ned Benson, em seu "Dois Lados do Amor" – cujo título original é justamente traduzível, literalmente, como "O Desaparecimento de Eleanor Rigby".
Eleanor é a protagonista interpretada por uma luminosa Jessica Chastain. No primeiro momento, ela aparece junto com Conor (James McAvoy) num restaurante onde armam um plano para sair sem pagar a conta. Mais do que pintá-los como dois desordeiros, o filme quer mostrar a cumplicidade que existe entre o casal, que, na cena seguinte já está fraturada.
Eleanor Rigby (Jessica) se atira num rio, mas sobrevive. Com um rosto transfigurado por um vazio e uma melancolia imensos, instala-se na casa dos pais, Julian (William Hurt) e Mary (Isabelle Huppert, uma escalação bastante feliz, especialmente pelos traços que fazem acreditar facilmente que poderia ser mãe de Jessica). Pouco sabemos sobre a moça, apenas que precisa retomar sua vida depois do fim de seu casamento.
Seu pai, um acadêmico, consegue uma vaga para ela, no curso da professora Friedman (Viola Davis), uma forma de recolocar Eleanor "no mundo". Ela desapareceu, simplesmente isso. Perdeu o contato com o marido, com os amigos, com qualquer outra pessoa que não os pais e a irmã (Jess Weixler). Mas é possível que uma pessoa desapareça assim?
O desaparecimento de Eleanor Rigby – seu nome, aliás, é explicado pelo fato de o pai ser um grande fã dos Beatles, além de ter o sobrenome Rigby – se dá pelo esmaecimento dos laços de afeto, pelo distanciamento que a moça toma e por evitar envolver-se mais profundamente com qualquer pessoa.
Sabemos pouco sobre a protagonista. O filme e o diretor/roteirista a revelam aos poucos, e, assim constroem nuances para a personagem. Não apenas ela, todos aqui são bastante humanos, desde a irmã, que é mãe solteira, até o pai de Conor, um famoso dono de restaurante, interpretado por Ciarán Hinds.
"Dois Lados do Amor" é derivado de um projeto maior e mais ambicioso: um díptico chamado "The Disappearance of Eleanor Rigby" com as versões "Ela" e "Ele", narrando a dissolução do casamento entre Eleanor e Conor do ponto de vista de cada um.
Depois de sessões bem-sucedidas no Festival de Toronto, no entanto, o diretor percebeu que seu filme, não sendo uma saga sobre hobbits, dificilmente conseguiria ter um lançamento em dois longas como ele planejou. Por isso, fez uma nova versão, com o subtítulo "Eles" – e é essa que chega aos cinemas no Brasil.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
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