SÃO PAULO (Reuters) - Truman é o nome de um cachorro e que nem aparece tanto assim a ponto de justificar, à primeira vista, o nome do novo filme do diretor espanhol Cesc Gay.
No entanto, o futuro de Truman, um velho boxer, é tudo que interessa a Julián (Ricardo Darin), um ator, doente terminal de câncer, protagonista desta produção superpremiada. Venceu, entre outros, cinco Goyas (o prêmio principal da Espanha) e também dois troféus para os atores Darin e Javier Cámara no Festival de San Sebastián.
A sorte de Julián está decidida – ele não pode mais escapar da doença. Tudo o que uma nova quimioterapia pode lhe trazer é esticar um pouco sua sobrevivência. Então, ele decide negar-se a isso. Mas seu velho cão precisa de um futuro quando ele faltar.
Ator argentino expatriado na Espanha, Julián está nesse impasse quando chega a sua casa seu velho amigo Tomás (Javier Cámara), que mora no Canadá. Antigos companheiros de juventude, os dois há muito não se veem. Mas, ainda que a chegada de Tomás seja surpresa, o objetivo da visita é transparente para Julián – mudar sua atitude diante do tratamento de saúde, numa última tentativa, de que Tomás foi convencido por Paula (Mercedes Fonzi), a prima de Julián.
A partir de um roteiro assinado por ele mesmo e Tomás Aragay, inspirado em vivências pessoais com sua mãe, o diretor sustenta um notável arcabouço dramático com nuances emotivas e até mesmo divertidas. Assim, encontra nas situações vividas pelos dois amigos em alguns dias juntos um colorido humano que reforça sua verdade sem ensopá-la de lágrimas.
O tom dos personagens é o grande responsável pelo acerto da história. De seu lado, Darin encarna com sutil determinação um homem encurralado pela morte, mas que decide em plena liberdade como viver seus últimos meses. Por isso, há dignidade em cada atitude. Além de um comovente afeto em suas entrevistas com potenciais novos donos para Truman – momentos em que ele deixa escapar que não é tão durão quanto aparenta.
Retomando contato com o amigo distante, Tomás também se expõe a emoções conflitantes, embora resista a render-se à amargura do amigo. Um momento particularmente bem arquitetado da história é a súbita viagem dos dois a Amsterdã, onde Julián vai reencontrar o filho (Oriol Pla).
O ponto forte de “Truman” é encontrar o equilíbrio entre a franqueza diante da situação-limite, sem esfriar as emoções que suscita, sem pieguice nem transbordamento. As interações de Julián com alguns personagens secundários, com os quais têm algumas pendências, contribuem para o bom resultado final.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
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