SÃO PAULO (Reuters) - Uma extraordinária precisão cerca todo o projeto e realização do drama "Para Sempre Alice", que valeu à atriz Julianne Moore um merecido Oscar como a protagonista. Na pele de Alice Howland, uma brilhante professora universitária de linguística afetada precocemente pelo mal de Alzheimer, Julianne exala a dose exata de força e vulnerabilidade.
Foi um ano em que o Oscar premiou os atores interpretando vítimas de doenças terríveis, como foi o caso também do vencedor na categoria melhor ator, Eddie Redmayne, no papel do cientista Stephen Hawking, sofredor de esclerose lateral amiotrófica (ELA), no drama "A Teoria de Tudo".
Por coincidência, trata-se da mesma doença que afeta um dos diretores de "Para Sempre Alice", Richard Glatzer (o filme é codirigido por seu parceiro, o diretor inglês Wash Westmoreland).
Glatzer, aliás, teve a confirmação de seu diagnóstico de ELA já no processo de produção deste filme, adaptado do bestseller escrito pela neurocientista Lisa Genova, por sua vez, impregnado da experiência da avó da autora com o Alzheimer.
Toda esta ligação com a realidade pode até ter garantido parte da autenticidade de "Para Sempre Alice". Mas o que sustenta o interesse é menos um relato clínico da progressiva deterioração mental de Alice e muito mais a delimitação deste lento desenrolar de um pesadelo muito humano, do qual nenhum espectador se sente distante, já que a doença pode afetar a qualquer um.
O círculo familiar de Alice não poderia ser mais afetivo, incluindo seu marido e médico John (Alec Baldwin) e seus filhos Anna (Kate Bosworth), Tom (Hunter Parish) e Lydia (Kristen Stewart). Ela mesma é uma profissional bem-sucedida e realizada, o que apenas torna a progressão de sua doença mais sentida.
É uma lenta e inexorável perda de si mesma a que começa a se apresentar no dia a dia de Alice. A princípio, são coisas aparentemente simples, como perder seu caminho num dia em que sai para caminhar. Ou ter um branco total quando se preparava para dar uma aula já ministrada várias vezes antes.
Os detalhes mais comoventes estão nas suas desesperadas tentativas de não perder completamente o rumo de suas tarefas cotidianas, criando lembretes para si mesma das coisas mais banais. Mas há desespero por trás de cada esforço, que a história, felizmente, não tenta aliviar.
Uma presença a notar é a de Kristen Stewart. Vivendo a filha caçula da protagonista, a jovem intérprete mais uma vez se esforça para deixar para trás os vestígios do sucesso adolescente "Crepúsculo", tornando-se aqui a protetora da mãe em franco processo de aniquilamento, de deixar de ser quem um dia foi.
O melhor do filme é manter a emoção sob medida. Não há excessos melodramáticos. Uma abordagem franca e honesta de um drama tão devastador, contando com uma intérprete completamente entregue à sua personagem.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
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