SÃO PAULO (Reuters) - Mais conhecido no cinema por sucessos como "Se Eu Fosse Você" e sua sequência, o produtor e diretor Daniel Filho pode não buscar um novo caminho em "Sorria, Você Está Sendo Filmado – O Filme", mas, reinventa o seu próprio estilo com essa comédia protagonizada por Lázaro Ramos, que interpreta um porteiro.
Com tom teatral – e trabalhando a partir de um roteiro assinado por ele e Fernando Ceylão –, Daniel Filho criou um longa sem cortes, com um único enquadramento – uma câmera instalada num computador -, e faz dessas "limitações" técnicas uma das razões de ser para o seu filme.
O ponto de partida é o suicídio de um roteirista (Bruce Gomlevsky) de um humorístico fictício da TV Globo. Antes de se matar, no entanto, o sujeito ligou a câmera de seu computador e assim ela ficou.
Ao ouvirem um tiro, alguns vizinhos correm para o apartamento e, com a chave do porteiro, entram e se deparam com o corpo, sem notar a câmera. Começa, então, uma verdadeira saga em torno do que fazer com o corpo e como fazer. O morto não tinha amigos e o único parente mora longe.
A estrutura, com entrada e saída de personagens, interagindo com alguns outros num cenário que poderia muito bem ser um palco, lembra alguns humorísticos da televisão – especialmente o recente "Sai De Baixo", mas sem o recurso de ver ação por diversos ângulos. Aqui, recorre-se apenas à câmera quase fixa do computador, que dá conta de praticamente toda a sala do apartamento, onde se desenvolve a ação.
As personagens são mais tipos do que gente de verdade – um recurso comum da comédia, bem usado aqui. Há o síndico mal-humorado (Otávio Augusto) e sua mulher, Vera (Susana Vieira), uma atriz cujo trabalho mais famoso foi a de uma personagem amiga de Regina Duarte numa novela.
O entra-e-sai do apartamento inclui a mulher do porteiro, empregada do suicida, Neide (Roberta Rodrigues), um corretor de imóveis (Marcos Caruso), um agente funerário (Lúcio Mauro Filho), uma dupla de paramédicos (Deborah Secco e Thiago Martins), e, finalmente, uma dupla de policiais (Juliano Cazarré e Thiago Rodrigues), entre outros. Tudo isso criando estranhamentos diante da situação.
Para o filme ser bem-sucedido, muito depende da sincronia do elenco. Lázaro, que fica mais tempo em cena, se destaca, como um sujeito atrapalhado e carismático. Susana também está bastante confortável e divertida no papel de uma atriz perua que vê na chance de uma entrevista a oportunidade de voltar às telas.
Trabalhando com um orçamento bem menor do que em seus filmes mais famosos, Daniel Filho conduz uma ação entre amigos – parte do elenco também é creditada como produtora –, e entrega seu melhor filme desde o drama "Tempos de Paz".
"Sorria..." é um filme atual ao falar da superexposição na mídia e da sociedade do espetáculo – que insiste em permanecer. Todas as personagens aguardam ansiosamente a chegada da TV Globo que as irá entrevistar para o telejornal – é o que acreditam.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
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