SÃO PAULO (Reuters) - O escritor e produtor Matthew Weiner ficou conhecido com uma das mentes por trás de bem-sucedidas séries de TV como "Os Sopranos" e, em especial, "Mad Men". Daí, não é de se estranhar que seu segundo longa, "Para o Que Der e Vier" (2013) compartilhe traços de DNA com seus dramas televisivos.
Mas o que deveria ser um valor, aqui aparece como um revés. Apresenta-se o mulherengo e egoísta apresentador de TV, Steve Dallas (Owen Wilson), que passa o tempo livre se drogando com o faz-nada e bipolar Ben Baker (Zach Galifianakis). São personagens excêntricos, que vivem para si mesmos, arrogantes em sua vida de adultos infantilizados.
O conflito vem à tona quando o pai de Ben morre e ele deve voltar à cidade natal, onde receberá a maior parte da herança (fazenda e dinheiro), em prejuízo de sua irmã Terri (Amy Poehler) e da madrasta de vinte e poucos anos, Angela (Laura Ramsey). Steve, que o acompanha, logo sente-se atraído pela jovem viúva, enquanto seu amigo se descontrola pela nova responsabilidade que seu pai, sabendo que é filho-problema, lhe deixou.
Com foco em Ben e Steve, que passam por um processo de reinvenção (ou pelo menos deveriam), Weiner usa suas personagens femininas como meros objetos de cena que servem aos propósitos dos protagonistas. O que faz sentido em "Mad Men", no contexto social americano dos anos de 1960, aqui ganha um sentido perverso, na contramão de uma discussão mais contemporânea sobre o papel da mulher no cinema.
Por outro lado, o diretor também se apoia no humor provocado pelos dois personagens "chapadões", um tanto rasteiro, diluindo-se no desenrolar da trama, que se torna mais sombria e dramática. Da metade para o fim, o filme perde coesão (sobretudo sobre a complexidade dos personagens), o que impede a provocação da desconexão de pessoas com o seu meio de se cumprir devidamente.
Com o potencial de criação de Weiner, o resultado de "Para o Que Der e Vier" é um tanto amargo para um filme que se vende como comédia (e não se fala aqui em humor negro). Talvez isso explique o atraso de dois anos para chegar às telas brasileiras.
(Por Rodrigo Zavala, do Cineweb)
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