SÃO PAULO (Reuters) - “Eu uso o necessário, somente o necessário”. O lema cantado pelo preguiçoso e simpático urso Balu na animação de 1967 pode ter servido de inspiração para Jon Favreau decidir como conduzir a história de seu “Mogli – O Menino Lobo”, o remake em live-action produzido pela Disney de seu próprio clássico.
O diretor utiliza elementos memoráveis do filme anterior, aproximando-se mais do conteúdo original que inspirou ambos os longas, “O Livro da Selva” (1894), do inglês Rudyard Kipling, numa trama que, em si, é a mais convencional possível.
Favreau não deixa de lado as músicas mais famosas da versão animada – embora algumas fiquem para os créditos – nem o tom jocoso e inocente de certos animais para agradar às crianças. Por outro lado, ele e o roteirista Justin Marks retomam as discussões morais do livro em um tom mais sério no texto e até na fotografia, que podem não satisfazer aquele espectador mais apegado à imagem pueril do menino selvagem em sua memória afetiva.
Contudo, o estelar elenco de vozes (tanto as originais como as da versão nacional) e, principalmente, o visual realista da natureza, com cenários e bichos criados artificialmente em computação gráfica avançada, são os atrativos para os adultos: o extraordinário que não é demais.
O novo longa, então, busca na história da obra literária sobre a Trégua da Água uma razão para a aproximação do temido Shere Khan (voz de Idris Elba no original/Thiago Lacerda no Brasil) de Mogli (Neel Sethi), um filhote de humano, como os animais da mata costumam dizer.
Resgatado quando criança pela pantera Bagherah (Ben Kingsley/Dan Stulbach) e criado pela loba Raksha (Lupita Nyong'o/Julia Lemmertz) e sua alcateia, o menino desperta a ira do tigre, que tem seus motivos para odiar os homens e, por isso, decreta que os lobos entreguem o garoto a ele. Bagherah, no entanto, o tira de lá para levá-lo à aldeia dos humanos.
Contratempos acabam deixando Mogli sozinho na selva, onde ele conhece outros animais, também antropomorfizados: a hipnotizante cobra Kaa (Scarlett Johansson/Alinne Moraes), cujo espaço na trama é muito reduzido, o imponente orangotango rei Louie (Christopher Walken/ Tiago Abravanel) e o indolente urso Baloo – seu nome original – (Bill Murray/Marcos Palmeira), cuja relação cativante com o menino é retomada com o mesmo vigor da animação.
É curioso, no entanto, que só estes e mais alguns personagens principais falem, enquanto outros só emitem seus sons característicos, a exemplo dos elefantes.
Aliás, em termos de som, a versão dublada da produção – exibida na sessão para a imprensa – alterna vozes que se encaixam nos personagens, como as de Marcos e Alinne, com outras que destoam, como a de Dan. O sotaque carioca dado a Mogli soa exagerado por alguns momentos, sendo perceptível uma certa falta de naturalidade de Neel Sethi, ator mirim estreante, em algumas cenas. Nada, porém, que prejudique tanto um filme que aborda justamente a jornada de amadurecimento de todo jovem através de um personagem em meio aos desafios do mundo selvagem.
Favreau, ator que ganhou destaque como diretor após a franquia “Homem de Ferro”, já adentrou esse terreno infantil antes, com o divertido “Zathura – Uma Aventura Espacial” (2005) e não deixa de agradar aos pequenos, com um humor simples e a dose de aventura necessária. Mais que isso, o cineasta se destaca por continuar o avanço tecnológico em CGI legado por “As Aventuras de Pi”, em um visual naturalista impressionante, no qual o 3D imersivo contribui, mas não é imprescindível.
(Por Nayara Reynaud, do Cineweb)
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