SÃO PAULO (Reuters) - Não há mais um numeral no título para indicar, mas para os que perderam a conta, “A Era do Gelo: O Big Bang” já é o quinto filme da série de desventuras dos simpáticos animais pré-históricos, liderados pelo mamute Manny, a preguiça gigante Sid e o tigre-dentes-de-sabre Diego.
No primeiro longa, de 2002, eles tinham que cuidar de uma criança humana; tentaram escapar do degelo no segundo, em 2006; dos dinossauros no terceiro, de 2009; e voltar para o bando, que ficou em outro continente durante a Pangeia mostrada no quarto, de 2012. A nova animação leva agora a franquia para o espaço, literalmente.
Mais uma vez, a culpa é do persistente esquilo Scrat e sua eterna busca pela noz perfeita, sendo, no prólogo e em trechos seguintes, um agente modificador da trama. O atrapalhado animalzinho é o responsável pela reorganização do Sistema Solar como conhecemos hoje e por iniciar uma contagem regressiva para o fim do mundo, que pode extinguir os mamíferos na Terra.
Além do perigo iminente da extinção, os laços familiares também são um tema recorrente da franquia. Embora Sid (John Leguizamo no original/Tadeu Mello na versão nacional) ainda continue na sua busca por um amor e Diego (Denis Leary/Márcio Garcia) tenha dúvidas se ele e Shira (Jennifer Lopez/Andrea Suhett) seriam capazes de iniciar uma família, o principal drama é o de Manny (Ray Romano/Diego Vilela).
Amora (Keke Palmer/Bruna Laynes), sua filha com Ellie (Queen Latifah/Carla Pompílio), já não é mais uma adolescente e está namorando Julian (Adam Devine), um jovem mamute descolado, com quem deseja se casar e rodar o mundo, para o desespero do pai enciumado.
Com um numeroso conjunto de personagens acumulados ao longo das produções, como Buck (Simon Pegg/Alexandre Moreno), a louca e sábia doninha da terceira história, o mais recente capítulo ainda adiciona novas figuras ao elenco, como Shangri Lhama (Jesse Tyler Ferguson), líder de uma comunidade alternativa onde vive a preguiça hippie new age Brooke (Jessie J, que canta a música inédita My Superstar no encerramento, mesmo na versão dublada, com a voz de Ingrid Guimarães), e de um bando de dinossauros, incluindo o rejeitado Roger (Max Greenfield/o youtuber Whindersson Nunes).
Este excesso cria, portanto, uma cacofonia de vozes, na qual nenhuma delas é ouvida devidamente, não havendo espaço para desenvolver estes personagens.
Isso fica evidente quando até o querido Sid parece não exercer o mesmo efeito cômico e afetivo de antes no roteiro de Yoni Brenner, Michael J. Wilson e Michael Berg. Por isso, sente-se a ausência na direção do brasileiro Carlos Saldanha, que esteve à frente dos três primeiros filmes da série e permanece na função de produtor executivo, a mesma que executou no quarto longa.
Mike Thurmeier, que ocupa a posição desde “A Era do Gelo 3” e tem agora o animador Galen T. Chu como codiretor, continua apostando na comédia física de Scrat, que ainda funciona, mas não é suficiente para sustentar toda a narrativa.
O tom pastelão permeia as constantes piadas lançadas por quase todos os membros do elenco, sendo que a avó de Sid (Wanda Sykes/Nádia Carvalho), mesmo estereotipada, é uma das poucas a turbinar o rarefeito humor apresentado. Para piorar, a versão nacional recorre a um ostensivo leque de gírias do momento que torna a dublagem forçada e, possivelmente, datada.
Se o 3D é bem utilizado em momentos pontuais, em nada se mostra indispensável. Contudo, é a abordagem científica de conceitos da física, por exemplo, nem sempre correta, mas convidativamente introdutória para os pequenos, o principal feito da nova produção da franquia, cujo furor e novidade foram para o espaço junto com Scrat.
Se não conquista mais o antigo público, agora já adulto, “A Era do Gelo: O Big Bang”, ao menos, garante um entretenimento básico para as crianças.
(Por Nayara Reynaud, do Cineweb)
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