SÃO PAULO (Reuters) - Apesar de produzido e lançado na França em 2013, "A Marcha" não poderia ser mais contemporâneo. O tema do longa do belga Nabil Ben Yadir é intolerância e racismo, em pauta em toda a Europa no momento. O filme começa com um tiro e termina com uma marcha pacífica que mudou a vida dos imigrantes e outras minorias na França de François Mitterrand.
Numa noite, enquanto foge de um cachorro raivoso, Mohamed (Tewfik Jallab) leva um tiro da polícia, apenas porque estava correndo. Ele sobrevive à agressão, mas resolve protestar contra a situação, na companhia de outros amigos –a maioria jovem e de origem estrangeira– de Minguette, um bairro de baixa renda de Lyon. A ideia é fazer uma marcha desde o sul da França até Paris e, com isso, chamar a atenção da opinião pública e autoridades.
Inspirado em fatos reais, mas tomando algumas liberdades, o roteiro, assinado pelo diretor e Nadia Lakhdar e Ahmed Hamidi, concentra-se nos dramas individuais dos participantes do protesto mais do que num escopo panorâmico e histórico, embora não deixe de dar a devida dimensão à história.
O grupo começa com poucas pessoas: além de Mohamed – personagem inspirado na figura real Toumi Djaidja –, um padre, Christophe Dubois (Olivier Gourmet), os jovens Sylvain (Vincent Rottiers) e Farid (M'Barek Belkouk), um músico (Nader Boussandel), uma canadense (Charlotte Le Bon), Kheira (Lubna Azabal) e sua sobrinha, Monia (Hafsia Herzi).
Não são poucas as ocasiões em que o grupo encontra hostilidade no meio do caminho –desde uma arma apontada para eles até uma suástica cravada a faca nas costas de um dos membros. Ainda assim, mantém seu espírito pacifista, até quando agentes infiltrados do governo tentam provocar uma briga para os desmoralizar. Desse grupo, Kheira é a pessoa com mais consciência política e, até por isso, irrita-se e discorda de diversos pontos e de estratégias sugeridas pelos colegas.
Não por acaso, o movimento do grupo por direitos sociais ecoa as rebeliões dos anos de 1960. Percorre o filme um espírito utópico daquela época, e a presença da canção "California Dreamin", de 1965, serve para sublinhar essa ponte que o diretor está fazendo. Não é difícil simpatizar com o grupo e sua causa – especialmente em tempos tão obscuros como o nosso – mas o diretor, às vezes, exagera, compensando em momentos em que os manifestantes são confrontados, não por seus ideais, mas por seu modus operandi.
Num certo momento, o filme evoca um fato real, o assassinato de Habib Grimzi, morto a facadas e lançado pela janela de um trem, em novembro de 1983, por um grupo de jovens que pretendiam alistar-se na Legião Estrangeira.
É nesse momento, mais do que em qualquer outro, que o filme ressoa no presente, lembrando que, por mais que os manifestantes de três décadas atrás tenham obtido vitórias, muito resta para ser feito nas questões do racismo e da intolerância.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb) OLBRENT Reuters Brazil Online Report Entertainment News 20151230T183006+0000