SÃO PAULO (Reuters) - O ano era 1996, uma década de pluralidade cultural que teve como marca inicial o alívio pelo fim da Guerra Fria e cujo maior temor era o Bug do Milênio ao seu final. O cenário explicava a visão esperançosa e fantasiosa de “Independence Day” de uma humanidade que se une para combater o inimigo externo e incerto.
O blockbuster de Roland Emmerich apresentava uma invasão alienígena sem precedentes, em que naves gigantes pulverizavam metrópoles –especialmente as norte-americanas, é claro.
A destruição inspirada em filmes-catástrofes setentistas tornou-se a marca do cineasta alemão, vista em “Godzilla” e “O Dia Depois de Amanhã”, e que, neste mundo pós-11 de Setembro, se tornou fetiche de filmes de “Transformers”, super-heróis e afins. O diretor, porém, não está cansado de colocar a Terra em risco e, 20 anos depois, resgata seu primeiro sucesso em forma de franquia com a sequência “Independence Day: O Ressurgimento”.
Duas décadas depois dos eventos do longa anterior, chamados de Guerra de 96, o planeta continua unido, com todas as nações vivendo em paz e usufruindo dos avanços obtidos pelo conhecimento da tecnologia alienígena deixada para trás na última batalha.
Contudo, a exploração realizada por David Levinson (Jeff Goldblum, de volta), agora um diretor especial do Departamento de Defesa, e a psiquiatra especializada em trauma, Catherine Marceaux (Charlotte Gainsbourg), em uma nave até então isolada no centro da África, revela, junto com outros sinais, que os inimigos se preparam para voltar e atacar a espécie humana novamente.
Quem também alerta sobre a ameaça é o afastado e debilitado ex-presidente Whitmore (Bill Pullman), que após o contato com os alienígenas naquela ocasião, estabeleceu uma ligação com eles, semelhante à do cientista Dr. Brakish Okun (Brent Spiner), que acorda de um longo coma por causa da proximidade dos ET’s, que pousam sua gigantesca nave nova sobre todo um oceano.
Além de parte dos personagens originais, são apresentados novos, que vão além de diferentes crianças em perigo cruzando as estradas do país. Exemplo é o temerário e arrojado piloto Jake Morrison (Liam Hemsworth) que, após seu trabalho na base lunar, participa da ofensiva humana para desativar a nave inimiga, em um estratagema digno de “Star Wars”, e matar a “rainha” da “colmeia” de aliens.
Emmerich e Dean Devlin, roteiristas do primeiro, têm a ajuda agora dos atores Nicolas Wright e James A. Woods –respectivamente, o fiscal e “alívio cômico” Floyd e o tenente Litter–, além de James Vanderbilt, que escreveu “Zodíaco”, mas ainda sofrem com a superpopulação do elenco.
Isso prejudica o desenvolvimento dos personagens, seja das novas figuras ou das velhas conhecidas, que carregam o trauma de uma geração pós-guerra interespacial, cujo interesse narrativo é desperdiçado. Dylan Hiller (Jessie T. Usher), filho do capitão interpretado por Will Smith, que preferiu participar de “Esquadrão Suicida” do que desta continuação, tem seu drama de suportar o peso do heroísmo do pai subaproveitado.
O script ainda esquece de personagens importantes do anterior, no momento em que não há nenhuma menção ao destino da ex-mulher de David, que agora tem uma espécie de tensão sexual com Catherine, então assessora do presidente, vivida por Margaret Colin. Tudo a ver com uma produção que nem cogitou a volta da intérprete original da filha do presidente, Mae Whitman, protagonista da lucrativa comédia adolescente “D.U.F.F.”, e fez uma controversa troca de atrizes, colocando a também competente Maika Monroe como uma Patrícia Whitmore tentando ser proativa.
Por isso, a presidente dos Estados Unidos é praticamente figurativa e o significativo avanço de sugerir um casal gay em um filme deste porte é minado com a resolução dele.
O texto continua com o mesmo humor canastrão e insípido de antes, mas que aqui se mostra menos eficiente, com exceção das claras tentativas da produção de conquistar o grandioso e lucrativo mercado chinês, com a presença da modelo de Hong Kong, Angelababy, do ator Chin Han e do massacre de uma cidade asiática, além das piadas internas.
Os fãs vão encontrar o entretenimento que esperam, mas podem sentir falta da urgência que o filme de 96 criava no espectador: ou porque o mundo futurista daqui parece menos real ou porque o público ficou tão saturado de tanta destruição que esta se torna só mais uma.
(Por Nayara Reynaud, do Cineweb)
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