SÃO PAULO (Reuters) - Veja um resumo dos principais filmes que estreiam nos cinemas do país nesta semana:
"EXTRAORDINÁRIO"
- August Pullman (Jacob Tremblay) tem 10 anos e nunca foi à escola. Até agora, recebeu educação em casa, de sua mãe, Isabel (Julia Roberts), devido a uma série de operações a que foi submetido desde o nascimento, por conta de uma grave deficiência genética. Ao final do processo, Auggie, como é chamado, ficou com sequelas físicas – um rosto com cicatrizes, olhos caídos, lóbulos de orelhas deformados. Ou seja, um garoto que não passará despercebido agora que seus pais decidiram mandá-lo à escola.
Baseado no best-seller da autora R.J. Palacio, “Extraordinário”, de Stephen Chbosky, apoia-se na típica estrutura do melodrama sobre um protagonista com alguma deficiência – cuja trajetória já se sabe que não será fácil. Assim, o roteiro – assinado por Chbosky, Steve Conrad e Jack Thorne – distribui aos poucos os obstáculos no caminho de seu herói, como a incompreensão dos colegas com o seu aspecto físico e a malvadeza de um “bully” (Bryce Gheisar).
Neste primeiro momento, a experiência de Auggie na escola é complicada – ele não consegue fazer nenhum amigo, sendo tratado como se tivesse alguma doença contagiosa. O que é interessante é como o garoto é dotado de um peculiar senso de humor para enfrentar sua sorte nada perfeita. Fora isso, é claro, conta com uma família atenta e amorosa, da qual fazem parte também o pai, Nate (Owen Wilson), e a irmã mais velha, Via (Izabela Vidovic).
No passado havia também a avó (Sonia Braga), que morreu, sendo hoje uma lembrança doída, especialmente para Via. Sonia aparece numa única cena, em flasback, numa conversa com a neta, a quem ela dedicava uma peculiar atenção.
"PERFEITA É A MÃE 2"
- A velha guarda parece que chegou para roubar o show nas franquias de comédia. Primeiro foram Mel Gibson e John Lithgow, em “Pai em Dose Dupla 2”. Agora, Susan Sarandon, Christine Baranski e Cheryl Hines são a razão de ser de “Perfeita é a Mãe 2”, uma sequência previsível, mas divertida.
O trio de protagonistas – interpretadas por Mila Kunis, Kristen Bell e Kathryn Hahn – continuam se voltando e revoltando contra os padrões sociais impostos às mulheres, principalmente às mães. Agora, especialmente, em relação ao Natal, quando reencontram suas próprias mães e batem de frente com elas também.
Embora não haja nenhuma novidade no conceito, em relação ao filme original (de 2016), a adição do trio de atrizes e suas personagens injetam um bom novo fôlego cômico – especialmente Christine, como mãe da personagem de Mila. Ela é uma espécie de Odette Roitman, cujas maldades, em sua mentalidade, servem apenas para fazer da filha uma mulher perfeita.
"DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS"
- É uma pergunta que não se deveria fazer, mas, ao fim de “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, se torna inevitável: era realmente preciso uma segunda versão cinematográfica do romance de Jorge Amado, já que a primeira, de 1976, com Sonia Braga e José Wilker, é um clássico? Talvez até fosse, mas não esta refilmagem sem expressão ou energia.
A história é a velha conhecida do público brasileiro: o malandro Vadinho (Marcelo Faria) morre, deixando viúva sua bela mulher (Juliana Paes). Solitária, ela acaba se casando com um farmacêutico metódico (Leandro Hassum), que é incapaz de a satisfazer. Por isso, ela chama pelo falecido, que acaba magicamente voltando a este mundo.
Dirigido por Pedro Vasconcellos, o filme é repleto de um virtuosismo tolo que não combina com seus tipos populares. Uma luz difusa ilumina todos os ambientes, fazendo parecer que a cidade de Salvador está coberta pelo fog londrino. Fora isso, a trilha sonora alterna “Gostoso demais” com “É o amor”, ambas na voz de Maria Bethânia. Com um filme assim, seria difícil que Vadinho se animasse realmente a uma volta do reino dos mortos.
"APENAS UM GAROTO EM NOVA YORK"
- Depois de dois filmes da série “Homem-Aranha” e alguns episódios de séries de TV, o diretor Mark Webb parece, finalmente, confortável num projeto que está mais próximo de sua sensibilidade – como sua bem-sucedida comédia romântica “(500) dias com ela” (2009).
Thomas (Callum Turner) não é mais adolescente, mas também não é completamente maduro. Sonha em ser escritor, mas seu pai (Pierce Brosnan), um famoso editor, não o incentiva. E o garoto vive preocupado com a mãe (Cynthia Nixon), emocionalmente frágil. Duas pessoas mudam seus rumos: um novo vizinho (Jeff Bridges) e a amante de seu pai (Kate Beckinsale).
Webb constrói Thomas transitando entre as incertezas dos protagonistas de obras como “A primeira noite de um homem” e “O apanhador em campo de centeio”. É um retrato delicado, mas é preciso tomar com uma certa dose de cuidado, pois tudo é filtrado pelo olhar de um rapaz que nem sempre tem uma visão muito positiva das mulheres que o cercam.
"ALTAS EXPECTATIVAS"
- Vindos de uma experiência com séries de TV, os diretores e roteiristas Pedro Antônio Paes e Álvaro Campos estreiam no cinema com a comédia “Altas Expectativas” – que marca também o primeiro papel do comediante de stand up Gigante Léo nas telas. O filme ganhou menção honrosa na Mostra Geração do mais recente Festival do Rio.
O roteiro, de autoria de Paes e Campos, baseia-se em parte na biografia do próprio Léo – cujo nome verdadeiro é Leonardo Reis -, que tem 1,10 m de altura e é casado com uma mulher de 1,65 m. No centro da história, está a paixão de Décio (Léo), um treinador de cavalos no Jockey Clube carioca, pela nova dona de um café local, Lena (Camila Márdila, de “Que horas ela volta?”).
O problema crucial do filme é parecer uma série de esquetes que não dão liga numa história estruturada, com personagens excessivamente carentes de definição dramática. Os próprios diretores parecem não confiar muito no próprio projeto quando optam por começar mostrando Léo num show de stand up num palco, contando piadas (na maioria, boas, aliás) – o que isso tem a ver com a história que vem a seguir? À medida que a trama avança, Décio vai se aproximar de um vizinho barulhento, Tassius (Felipe Abib), que justamente está montando um show de stand up e nota o potencial humorístico de Décio.
Outra prova de insegurança com a própria história está no uso abusivo da música, que sobe a cada cena, gerando cansaço.
(Por Neusa Barbosa e Alysson Oliveira, do Cineweb)
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