ESTREIA–Após polêmicas, “Pequeno Segredo” finalmente estreia com apelo às lágrimas

Publicado 11.11.2016, 02:19
ESTREIA–Após polêmicas, “Pequeno Segredo” finalmente estreia com apelo às lágrimas

SÃO PAULO (Reuters) - Depois de uma estreia discreta, no final de setembro em Novo Hamburgo (RS), para se qualificar para concorrer ao Oscar de melhor filme em língua estrangeira, “Pequeno Segredo”, finalmente, chega ao circuito nacional, cercado de polêmicas - mais pelo processo que o selecionou para representar o Brasil no prêmio da Academia do que por suas limitadas qualidades cinematográficas.

O longa tem como ponto de partida uma história envolvendo a família do diretor, David Schurmann, do conhecido clã de velejadores catarinenses. O roteiro, assinado por Marcos Bernstein (“Central do Brasil”), é inspirado no livro homônimo escrito pela matriarca, Heloisa Schurmann, que narra a sua experiência com Kat, garota portadora de HIV, que adotou, junto com seu marido, Vilfredo.

No longa, Heloisa e Vilfredo são interpretados por Julia Lemmertz e Marcello Antony, enquanto Kat, pela estreante Mariana Goulart. O filme é estruturado ao redor de duas tramas: a primeira acompanha a família, especialmente a mãe, criando a garota, que não sabe ser portadora do vírus, apesar dos excessivos cuidados e medicamentos que recebe. A outra história acontece no passado, quando Jeanne (Maria Flor), uma jovem paraense, conhece e se apaixona pelo viajante neozelandês Robert (Errol Shand). Narradas em paralelo, as duas tramas encontrarão sua intersecção na figura de Kat.

“Pequeno Segredo” é, claramente, um filme sobre personagens femininas – tanto que os homens praticamente entram e saem sem deixar marcas mais profundas. A essas figuras soma-se também a irlandesa Fionnula Flanagan (da série “Lost), como avó de Kat, que tenta a todo custo obter a guarda da neta. Apesar do talento da atriz, sua personagem é ingrata, já que seu perfil e atitudes aproximam-na mais de uma vilã de novela mexicana do que de um ser humano em carne e osso lutando pela neta.

Com apenas dois longas no currículo – o documentário “O Mundo em Duas Voltas” e “Desaparecidos”, uma espécie de “Bruxa de Blair” catarinense –, o diretor cercou-se de profissionais talentosos na equipe técnica, como Bernstein, no roteiro; o diretor de fotografia peruano Inti Brionis; o montador Gustavo Gianni (“Linha de Passe”) e o compositor Antonio Pinto (“Cidade de Deus”). Todos executam bem o seu trabalho – mas há um limite que não depende deles transpor. E é aqui que “Pequeno Segredo” encontra seus maiores problemas.

O filme faz uma opção clara pelo melodrama e, a priori, não há nada de errado nisso, visto tratar-se de um gênero que rendeu excelentes obras. Porém, o longa de Schurmann nunca vai além da superfície, seja em suas escolhas estéticas, no tratamento dos personagens ou na suposta ousadia de ter duas tramas paralelas.

São personagens cujas motivações são óbvias (embora nobres), e cujas ações têm o claro intuito de tentar arrancar lágrimas do seu público. Mais uma vez, não haveria problema algum em um filme querer emocionar, mas o problema surge quando se tenta arrancar lágrimas a fórceps.

Ao todo, 17 filmes se inscreveram no processo seletivo para representar o Brasil no Oscar. Além do favorito, “Aquarius”, que já contava com uma carreira internacional consolidada, havia filmes melhores do que “Pequeno Segredo”, como “Campo Grande”, de Sandra Kogut, e “Tudo o que aprendemos juntos”, de Sérgio Machado – ambos, aliás, abordando questões sociais.

E havia também longas sobre figuras brasileiras conhecidas no cenário internacional, como a psiquiatra Nise da Silveira e o lutador de MMA José Aldo – todos, também, cinematograficamente mais bem resolvidos e ricos do que o de David Schurmann.

Uma das explicações da comissão pela escolha de “Pequeno Segredo” foi uma suposta dicotomia entre “filme de Oscar” e “filme de festival”, no caso, as competições internacionais de peso, como Cannes, Berlim e Veneza. Mas uma rápida olhada nas listas dos últimos indicados e vencedores do Oscar na categoria comprova como esse argumento não faz sentido. Nos últimos cinco anos, por exemplo, todos os ganhadores, e a maior parte dos indicados, foram premiados, ou pelo menos exibidos em competição, nos grandes festivais mundiais, privilégio que “Pequeno Segredo” não conseguiu conquistar.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb OLBRENT Reuters Brazil Online Report Entertainment News 20161109T182028+0000

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