SÃO PAULO (Reuters) - Vencedor do prêmio da crítica no Festival de Veneza 2015, “Sangue do Meu Sangue”, do prestigiado cineasta italiano Marco Bellocchio é um primor de vitalidade e apuro. No roteiro, também assinado por Bellocchio –que colhe parte de sua inspiração de um episódio do clássico romance histórico italiano “I Promessi Sposi” (1827), de Alessandro Manzoni- alternam-se duas épocas.
No século 17, um nobre, Federico Mai (Pier Giorgio Bellocchio), tenta obter da Igreja a permissão para o sepultamento de seu irmão, Fabrizio, um frei que se suicidou, em campo santo. Para admiti-lo, os superiores eclesiásticos do convento obcecam-se por obter uma confissão da monja Benedetta (Lidiya Liberman) de que fizera um pacto com o demônio, seduzindo o frei suicida, o que o liberaria de toda culpa pela morte auto-provocada.
Hospedado ali, com duas irmãs supostamente pias (Alba Rohrwacher e Federica Fracassi), o próprio Federico é atormentado por tentações de sedução e por sugestivos olhares de Benedetta, que solicita silenciosamente uma aliança com ele.
Transfere-se a ação para a época atual, quando um funcionário corrupto do governo (Pier Giorgio, de novo) e um empresário russo (Ivan Franek) tentam comprar as dependências da velha prisão/convento, em cujos quartos úmidos e corredores desolados habita apenas um velho e misterioso conde (Roberto Herlitzka). Este só é visto à noite pelas ruas da cidade e sobre ele paira a sólida suspeita de que seja um vampiro.
Alternando estes dois tempos de maneira fluente, Bellocchio coloca em discussão temas que sempre frequentaram sua obra – como o moralismo doentio da religião, a força indomável dos sentimentos mais vitais do ser humano, a ambição desmedida e a aliança subterrânea e sinistra dos eternos poderes do mundo, à qual cabe muito bem a metáfora do vampirismo, impregnada de um humor negro admirável.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
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