SÃO PAULO (Reuters) - Vista recentemente na pele de Michèle Leblanc, a implacável heroína do drama “Elle” – que rendeu sua primeira indicação ao Oscar -, a atriz francesa Isabelle Huppert retorna às telas num filme mais intimista, a comédia dramática “Souvenir”.
Dirigida pelo promissor diretor belga Bavo Defurne, Isabelle despoja-se de sua habitual frieza e segurança para encarnar Liliane Cheverny, operária de uma fábrica de patês finos. Ela leva uma existência solitária e sem amigos, de casa para o trabalho, do trabalho para casa. Até o dia em que a fábrica contrata um novo trabalhador substituto, Jean Leloup (Kévin Azaïs).
Mantendo uma amizade cordial, ele reconhece nela Laura, a cantora preferida de seu pai (Jan Hammenecker) que, décadas atrás, tivera um sucesso fugaz depois da participação num concurso na TV – em que ela perdeu na grande final.
A trajetória da madura Liliane e do jovem Jean começa a emparelhar justamente a partir de seus contrastes – e a diferença de idade não é obstáculo à mútua atração. Fora isso, o sonho dele de tornar-se boxeador corresponde ao dela, hoje adormecido, de brilhar como cantora.
O filme lida com esse romance incomum, que desperta o preconceito de alguns – como os pais dele – mas se alimenta de esperanças muito parecidas. Jean funciona inclusive como estímulo para que Liliane pense em retomar sua carreira, interrompida depois de conflitos mal-explicados com seu antigo empresário e amante, Tony Jones (Johan Leysen).
A entrega de Isabelle a este papel de mulher desiludida e melancólica, mas ainda disposta a amar, e a sinceridade de Kévin como seu entusiasmado jovem companheiro são pontos altos para o envolvimento do público. Uma aura de humor acompanha a volta de Liliane aos palcos, com figurino e repertório brega-chique-romântico que fazem a delícia dos saudosistas dos anos 1970.
Falando em música, Isabelle interpreta neste revival “Joli Garçon”, da banda Pink Martini, que fica na cabeça de qualquer espectador. Se o filme não tem nenhum segredo, dá conta de sua receita com simplicidade e um charminho francês. Lembra até um pouco o cult “Estação Doçura” (85), de Percy Adlon, por seu casal anticonvencional e a honestidade com que ele é tratado.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
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