SÃO PAULO (Reuters) - A comédia brasileira contemporânea deveria ser objeto de estudo: por que tantos filmes se aproximam da televisão e mais parecem especial de Natal/piloto de uma sitcom? Basta pensar naquelas que fizeram sucesso nos últimos meses, e o padrão não foge disso: “Minha mãe é uma peça 2”, “Tô Rica”, “Um suburbano sortudo”. Todas com o mesmo perfil e a mesma ambição. Não terem migrado para a TV depois da boa recepção na bilheteria é que surpreende.
“Um tio quase perfeito” se une ao time, com todo o jeito de televisivo e um ator/comediante conhecido dos programas de televisão e internet, Marcus Majella, que está em “Vai que cola” e esteve na “Porta dos Fundos”, e com apelo para chamar o público. Diferente dos outros sucessos, que pesam no humor rasteiro (excetuando “Minha mãe é uma peça 2”), porém, esse mira em levar a família inteira para o cinema, com piadas um tanto ingênuas que lhe garantiu classificação livre.
Majella é o tio do título, um sujeito de bom coração que vive de pequenos expedientes, alguns são golpes (como se passar por pastor evangélico e vender água milagrosa na rua), outros nem tanto (trabalhar de estátua viva). De qualquer forma, nunca tem dinheiro suficiente para pagar as contas e acaba despejado, com sua mãe (Ana Lucia Torre, sempre ótima, até num filme insosso), do apartamento em que moram.
A saída é procurar abrigo na casa da irmã, Ângela (Leticia Isnard), com quem ele não mantém contato há anos – ambos se odeiam mutuamente. No começo, ela nega, mas acaba cedendo apenas por uma noite. No dia seguinte, viajará cedo e os filhos ficarão sob os cuidados da empregada. O tio Tony, porém, consegue interceptar a moça e fazer com que ela não apareça para trabalhar. Assim, a dupla se hospedará e cuidará das crianças enquanto a mãe delas viaja.
O roteiro, assinado por Leandro Muniz, Sabrina Garcia e Rodrigo Goulart, vai pelo caminho mais previsível possível. Cada um dos filhos de Ângela tem um problema, e Tony, com seu jeito levemente desbocado e atrapalhado, os ajudará. Patricia (Jullia Svacinna) é a mais velha, e quer montar uma peça de Shakespeare na escola, mas as colegas preferem uma história com vampiro. João (João Barreto) não se concentra nas aulas e está prestes a ser reprovado. Já a caçula, Valentina (Sofia Barros), é um tanto hiperativa.
A direção de Pedro Antonio (“Tô Rica”) não se esforça muito para evitar o tom de comédia televisiva – o que acaba nem sendo um grande problema, uma vez que se vale bem do timing de Majella e da sagacidade de Ana Lucia.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
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