SÃO PAULO (Reuters) - Em “Herança de Sangue”, Mel Gibson retoma a persona cinematográfica que o fez famoso: o homem comum, ranzinza e cínico, que atira para todos os lados e não se machuca. A diferença aqui é que defende (rapidamente, mas defende) mexicanos e compra briga com neonaziastas. É o Mel do século 21, mas longe de ser politicamente correto.
Dirigido pelo francês Jean-François Richet (“Assalto à 13a DP”, “Doce Veneno”), o filme é supostamente de ação e suspense, mas, no fundo, é um western modernizado como um pastiche de gêneros. Gibson interpreta Link, tatuador que vive num trailer solitário, ex-presidiário e em busca da filha adolescente desaparecida há alguns anos.
O filme abre com a garota, Lydia (Erin Moriarty), comprando munição num supermercado. A cena se propõe a ser uma crítica à hipocrisia da sociedade americana: a personagem compra balas, mas não pode comprar cigarros porque é menor de idade.
Bem, é uma crítica um tanto óbvia, e obviedade, nesse filme, só não é superada pelos litros de sangue que jorram dos personagens. Envolvida com bandidos mexicanos, ela mata acidentalmente seu namorado (Diego Luna) – mas a gangue promete se vingar. Resta à garota pedir ajuda ao pai, que se surpreende com a ligação, mas faz de tudo para salvá-la.
O que temos a partir daí é algo à la John Wayne fugindo de índios, com uma donzela indefesa na garupa de seu cavalo. É a oportunidade para Gibson brilhar com seus braços tatuados, uma barba grisalha e tiradas (irritantemente) cômicas feito metralhadora giratória. Provavelmente nada que ele já não tenha feito – excetuando a barba grisalha, talvez.
“Herança de Sangue” não é lá muito diferente de outros filmes de vingança recentes – como, por exemplo, “Busca Implacável”, que alçou Liam Neeson ao posto de herói de ação. Mas aqui Richet assume o seu filme como uma diversão sem grandes pretensões ou comentários sociais, regada a muito sangue. Nesse sentido, é um longa mais honesto do que a maioria dos exemplares do gênero.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
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