SÃO PAULO (Reuters) - O ator Sean Penn faz tipos atormentados como ninguém. Em seu novo trabalho, "O Franco-Atirador" (não confundir com o filme homônimo oscarizado de 1978), ele é o personagem-título, um sujeito envolvido numa trama que provoca a morte do ministro das Minas do Congo. Anos mais tarde, esse passado vem bater à sua porta – e dada a quantidade de pancadaria no longa, não é apenas na porta em que se bate.
Com todo seu ativismo fora das telas, Penn talvez seja a escolha acertada mas também intrigante para o protagonista, Terrier. Sua missão será desmascarar uma perigosa corporação que explora países pobres. Longe da originalidade, mas também sem muito espaço para política, o filme é uma sequência de tiros, pancadas e bombas sem fim – além de um pretexto para o ator mostrar seus músculos.
Depois de cumprir sua missão, Terrier é obrigado a deixar o Congo imediatamente, sem sequer avisar sua namorada, a médica humanitária Annie (Jasmine Trinca). Anos mais tarde, começa a ser perseguido, enquanto trabalha numa ONG, num campo de refugiados na África – numa tentativa de expiar o seu passado.
Não custa muito para ele se livrar de seus algozes e embarcar numa jornada pela Europa para limpar o seu nome.
Irá encontrar, é claro, seus antigos companheiros. Entre eles, Felix (Javier Bardem), agora casado com Annie – que diz dever muito a ele por tê-la salvado – e Cox (Mark Rylance). Ambos estão bastante ricos e renegam os crimes passados. Mas podem ter a ver com a perseguição ao protagonista.
Muito se tem comparado o papel de Penn aos últimos de Liam Neeson, que a essa altura da vida virou herói de filmes de ação. As semelhanças não são apenas porque Pierre Morel, o diretor aqui, também assinou "Busca Implacável", filme que causou essa reviravolta na carreira de Neeson. Talvez Penn tivesse em mente um thriller político – ele é responsável pela produção e divide a assinatura do roteiro –, mas o resultado está longe disso.
"O Franco-Atirador" é só mais um filme de ação que segue os protocolos das produções globalizadas, pulando de um país europeu para outro, com elenco e técnicos de vários deles.
Morel não tem pudores em mostrar cabeças explodindo e sangue voando para todo lado, além de tiros e facadas – aliás, o faz com competência e certo prazer sádico. O problema, no entanto, é quando esse tipo de coisa não está acontecendo em cena. A narrativa então perde ritmo e revela que há apenas um fiapo de trama, sem muita consistência, amarrado uma sequência de violência atrás da outra.
Em todo caso, é bom Liam Neeson ficar de olho, pois surgiu um concorrente capaz de tomar seus futuros papéis.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
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