SÃO PAULO (Reuters) - Talvez seja sintomático, talvez não, mas ao longo dos 140 minutos de “Mulher-Maravilha” ninguém chama a personagem por esse nome. Dessa forma, o filme dirigido por Patty Jenkins (“Monster – Desejo Assassino”), como todo primeiro solo de super-heróis, é um filme de formação. É sobre a transformação de Diana (mais tarde, Diana Prince) na heroína que todos conhecemos.
A inocência de Diana (Gal Gadot) por muitos anos foi muito bem guardada numa ilha utópica habitada apenas por amazonas, perdida em meio à bruma, chamada Temiscira. Lá, ela foi criada por sua mãe e rainha das amazonas (Connie Nielsen) e treinada para se defender pela tia, a general Antiope (Robin Wright). Os problemas no paraíso começam, como não?, com a chegada de um homem, um espião americano fugindo dos alemães, Steve Trevor (Chris Pine).
Nesse momento, cria-se uma ruptura, quando Diana descobre que do lado de fora dessa redoma de vidro existe guerra – no caso, a Primeira Guerra Mundial. Decidida a acabar com o conflito e trazer a paz para a humanidade, ela se une a Trevor e vão para a Europa.
Ao chegar a Londres – o espião trabalha para a Inglaterra –, Diana tem um comportamento de peixe fora d’água, o que gera uma dezena de cenas de humor, a ponto de se tornarem excessivas. Não demora muito, a protagonista e Trevor estão lutando contra os alemães, liderados por um general, Ludendorff (Danny Huston), e sua cientista maluca, conhecida como Dra. Veneno (a espanhola Elena Anaya, de “A Pele Que Habito”), que criou um gás letal.
Há um visível esforço de Patty Jenkins para livrar-se das amarras da cartilha de filmes de heróis. Embora ela não seja conhecida como uma diretora com uma assinatura e estilo fortes, consegue sutilmente introduzir algumas mudanças num universo saturado de testosterona. Entre elas, está a forma como sua câmera enquadra a protagonista: Diana aparece sempre como a figura ativa, liderando a ação.
Ainda assim, “Mulher-Maravilha” conta com vários elementos que marcam o gênero: câmera lenta em cenas de luta, uma forçada batalha final e uma trama um tanto confusa. Por outro lado, há algo de mágico na personagem e em Gal Gadot, que passa o filme todo com cara de surpresa e coragem.
Tudo é novidade para ela, e nada parece ser impossível de ser derrotado – ao menos, ela pensa assim. Seu grande rival, em sua cabeça, é o deus da guerra, Ares. Segundo sua lógica, ele domina os humanos e, se ela o destruir, eles cairão em si e nunca mais haverá guerra.
Muito se falou sobre a afirmação do feminino em “Mulher Maravilha”. Enquanto é inegável que exista uma tentativa disso – só o fato de ser um filme protagonizado por uma heroína já diz muito –, mas é preciso levar em consideração que oito dos dez produtores do filme, além dos cinco roteiristas, são homens. Nesse sentido, é de se perguntar até que ponto o filme não se aproveita do feminismo contemporâneo que o cerca apenas para vender a si mesmo e aos seus produtos.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb