SÃO PAULO (Reuters) - Ninguém pode reclamar que não foi uma boa ideia reunir pela primeira vez na tela dois dos mais populares astros do cinema francês, Marion Cotillard e Louis Garrell. Um encontro que acontece no drama “Um Instante de Amor”, em que a diretora Nicole Garcia adapta um romance italiano, “Mal di Pietre”, de Milena Agus, para contar a história de Gabrielle.
Jovem moradora de uma aldeia do sul da França nos anos 1940, ela é sujeita a problemas nervosos e dores sem diagnóstico, mas o mais inquietante, nesta época e ambiente, é sua disposição a uma sensualidade sem freios, o que a coloca em apuros junto à comunidade e à família.
Diante dos repetidos escândalos, a mãe dá-lhe um ultimato: ou o casamento ou o hospício. Assim, ela casa-se num arranjo de conveniência com um trabalhador espanhol, José (Alex Brendemühl), a quem seus pais ajudam a montar um negócio de construção.
José é um homem tolerante e próspero, mas este é um casamento sem amor e quase nenhum sexo. A oportunidade para Gabrielle descobrir a paixão está no episódio de sua internação numa clínica suíça, onde vai se tratar das dores que, afinal, refletiam problemas renais. Ali conhece um tenente, André (Louis Garrel), ferido na guerra da Indochina, e finalmente seus sentimentos desabrocham. Os dois têm inúmeras afinidades, inclusive a literatura e o piano, raridades no ambiente original de Gabrielle.
Com uma batida de novelão, completamente previsível e uma trilha sonora insistente, “Um Instante de Amor” peca especialmente por não aproveitar nenhuma oportunidade de injetar maior tensão num triângulo com esse potencial (a figura do marido, sobretudo, poderia ser mais bem desenvolvida, ainda mais com um ator tão talentoso quanto Brendemühl).
Pior ainda é insinuar um toque sobrenatural que não se encaixa devidamente na lógica narrativa.
Marion Cotillard precisa urgentemente de uma renovação de papeis. Não dá mais para ela insistir nestes dramalhões em que só tem que fazer uma cara triste, como foi o caso também do recente “Era Uma Vez em Nova York” (2013).
Ela é melhor do que isso, mas precisa de outros bons papeis para demonstrar. Louis Garrel, por sua vez, está procurando personagens mais adultos, o que é saudável. Só que, dessa vez, a química da dupla romântica promissora não deu rendeu tudo o que poderia.
Por culpa da diretora, o tom do filme é pomposo demais, típico de uma produção para a TV francesa (Canal +), pegando carona na inegável promoção que foi ter sido selecionado para a competição de Cannes em 2016.
Esta foi, aliás, a terceira vez que um filme dirigido pela também atriz Nicole Garcia chegou à competição pela Palma de Ouro em Cannes. A primeira vez foi em 2002, com “O Adversário”, e a segunda, em 2005, com “Selon Charlie”.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
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