Por Julie Steenhuysen
CHICAGO (Reuters) - Um mapa molecular do Zika revelou diferenças estruturais importantes em uma proteína essencial do vírus que pode explicar por que o patógeno ataca células nervosas enquanto outros vírus da mesma família não o fazem, disseram pesquisadores dos Estados Unidos nesta quinta-feira.
Variações em proteínas na casca externa, ou "envelope", do vírus podem explicar como o Zika entra nas células humanas e indicam novas maneiras de combater o vírus com drogas ou vacinas, disse o doutor Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e de Doenças Infecciosas dos EUA, que financiou o estudo publicado no periódico científico Science.
O Zika é muito semelhante a outros membros da família dos flavivírus, como os da dengue, febre amarela e febre do Nilo Ocidental – mas com uma diferença fundamental.
"Detectamos um trecho muito discreto da proteína no envelope que é realmente diferente dos outros flavivírus", disse Fauci. "Isso é como uma grande bandeira vermelha".
Fauci disse que a importante diferença estrutural de vírus semelhantes pode explicar o elo entre o Zika vírus, que é transmitido pelo mosquito Aedes Aegypti, e duas doenças – a microcefalia, uma má-formação cerebral, e a síndrome de Guillain-Barré, que pode causar paralisia.
Para entender melhor por que o Zika se comporta de maneira tão diversa em relação a vírus relacionados, Richard Kuhn, Michael Rossmann e colegas da Universidade Purdue criaram a representação de uma partícula madura de um Zika vírus com uma técnica que fornece uma imagem de altíssima resolução do patógeno.
A diferença na estrutura do Zika comparada a vírus similares foi vista em uma região da proteína do envelope que os flavivírus podem utilizar para se fixar a células humanas.
Esta proteína também é um alvo-chave da reação do sistema imunológico ao vírus, o que a torna potencialmente útil no desenvolvimento de uma vacina.
"Eles ainda não o provaram, mas é uma primeira pista muito importante", afirmou Fauci.
Os cientistas acreditam que o Zika é neurotrópico, o que significa que ataca células nervosas, e é único vírus transmitido por mosquito ligado a um problema de nascença.
Não está provado que o Zika, que vem se disseminando rapidamente pelas Américas, causa microcefalia em bebês, mas há indícios crescentes que apontam para uma ligação.
País mais afetado pelo surto de Zika, o Brasil disse ter confirmado mais de 900 casos de microcefalia, e acredita que a maioria deles está relacionada às infecções de Zika em gestantes. O país ainda investiga quase 4.300 outros casos suspeitos de microcefalia.