Por Kate Kelland
LONDRES (Reuters) - O Zika vírus que atualmente assola as Américas parece ter pegado uma carona em um avião para o Brasil em 2013 e iniciado sua invasão do continente a partir do país, disseram cientistas nesta quinta-feira.
Na primeira análise de genoma da atual epidemia de Zika, que foi ligada no Brasil a casos de microcefalia, uma má-formação craniana, pesquisadores afirmaram que a introdução do vírus nas Américas quase três anos atrás coincidiu com um aumento de 50 por cento de passageiros de voos de áreas atingidas pelo Zika.
A cepa do vírus circulando no surto atual está mais intimamente relacionada a uma identificada na Polinésia Francesa, informaram os cientistas, embora também seja possível que o Zika tenha sido introduzido separadamente nas Américas e na Polinésia Francesa a partir do sudeste da Ásia.
Oliver Pybus, biólogo da Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha, que co-liderou a pesquisa com uma equipe do Instituto Evandro Chagas, sediado em Belém do Pará, disse que a descoberta leva a crer que uma intensificação nas viagens internacionais ajudou o vírus a ampliar seu alcance.
"Analisamos padrões de movimentação humana de larga escala e nos concentramos nos passageiros de voos que viajaram ao Brasil partindo de países que vinham relatando Zika desde 2012", disse. "Do final de 2012 em diante, houve um aumento de 50 por cento de passageiros viajando para o Brasil saindo de países com Zika."
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o surto de Zika, que é transmitido por mosquitos, uma emergência de saúde pública mundial no dia 1º de fevereiro. A declaração se baseou em grande parte em indícios que ligam o Zika à microcefalia.
Ainda não está claro se o Zika vírus de fato causa microcefalia em bebês, mas a OMS e outros especialistas em doenças infecciosas afirmam que os indícios de um elo causal estão crescendo.
No estudo, a equipe de Pybus usou amostras de vários genomas de Zika vírus conectados ao surto brasileiro recente –incluindo uma de um doador de sangue, uma de um caso fatal de infecção em um adulto e um de um recém-nascido com más-formações congênitas e microcefalia.
Usando o mais avançado sequenciamento genético, os pesquisadores mapearam os códigos genéticos das amostras e descobriram haver pouca variação genética entre elas. Isso indica que houve uma única introdução de Zika nas Américas, provavelmente entre maio e dezembro de 2013 –mais de um ano antes de o vírus ser relatado pela primeira vez no Brasil.
Nuno Faria, pesquisador em Oxford e no Evandro Chagas que participou do estudo, disse que estes primeiros dados genômicos do surto brasileiro forneceram "uma boa base para pesquisas futuras".
Segundo ele, a equipe também procurou ligações entre o Zika e a microcefalia e encontrou algumas correlações espaciais e temporais. Para testar essa ligação de forma conclusiva, porém, os cientistas precisam ver os resultados de estudos epidemiológicos de caso-controle.