Por Lesley Wroughton e Angus McDowall
WASHINGTON/BEIRUTE (Reuters) - Os Estados Unidos e a Síria deram relatos conflitantes nesta terça-feira sobre a chegada de inspetores de armas químicas à cidade síria de Douma, onde ocorreu um possível ataque com gás venenoso, que levou a uma retaliação liderada pelo governo norte-americano.
A TV estatal síria relatou que os especialistas da Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq) haviam chegado a Douma.
A porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Heather Nauert, disse nesta terça-feira estar ciente de relatos da Síria de que inspetores da Opaq haviam conseguido ver a cidade, mas “nosso entendimento é que a equipe não entrou em Douma”. Uma fonte diplomática em Haia disse que os especialistas não entraram em Douma.
Países ocidentais dizem que diversos civis que se abrigavam contra bombas foram intoxicados até a morte com gás em 7 de abril. A França informou ser muito provável que evidências do ataque a gás venenoso estivessem desaparecendo antes que inspetores pudessem chegar à cidade.
A Síria e a Rússia, sua aliada, negam que qualquer ataque químico tenha acontecido.
Douma está atualmente nas mãos de forças do governo após rebeldes deixarem a cidade nas horas seguintes a ação liderada por forças norte-americanas, francesas e britânicas em que mais de 100 mísseis foram disparados para atingir três possíveis instalações de desenvolvimento ou armazenamento de armas químicas.
Os ataques aéreos de sábado foram os primeiros ataques coordenados do ocidente contra o governo Assad em uma guerra de sete anos que matou mais de 500 mil pessoas.
A intervenção ameaçou aumentar confrontos entre o Ocidente a Rússia, mas não teve impacto significativo em solo, onde o presidente sírio, Bashar al-Assad, está atualmente em sua posição mais forte desde os primeiros dias da guerra e não mostra sinais de reduzir sua campanha para derrotar a insurgência.
YARMOUK
O Exército sírio iniciou a realização de bombardeios preparatórios nesta terça-feira para uma operação na última área fora de seu controle próxima a Damasco, disse um comandante da aliança pró-governo.
Recuperar o acampamento Yarmouk e áreas vizinhas ao sul da cidade darão a Assad controle completo sobre a capital síria. Yarmouk, maior acampamento da Síria para refugiados palestinos, está sob controle de combatentes do Estado Islâmico há anos. Embora a maior parte dos moradores tenha fugido, a Organização das Nações Unidas (ONU) diz que diversos milhares permanecem.
Assad tem se beneficiado de poderio aéreo russo desde 2015 para reconquistar amplas faixas da Síria. O possível ataque com gás venenoso cria um dilema para potências Ocidentais, que estão determinadas a punir Assad pelo uso de armas químicas, mas não possuem estratégia para o tipo de intervenção sustentada que poderia atingi-lo.
Os governos sírio e russo transmitiram comunicados de funcionários de hospital em Douma –que grupos de auxílio médico operando em áreas rebeldes rejeitam como propaganda– dizendo que nenhum ataque químico aconteceu.
A mídia estatal síria relatou que mísseis haviam novamente mirado uma base aérea durante a noite, mas o comandante da aliança militar regional apoiando o governo, que falou na condição de anonimato, mais tarde disse à Reuters que se tratava de um alarme falso.
O comandante disse que a nova ofensiva irá mirar militantes do Estado Islâmico e da Frente Nusra no acampamento Yarmouk e no distrito de Al-Hajar Al-Aswad. Rebeldes na área vizinha de Beit Sahm haviam concordado em se retirar em ônibus, segundo o militar.