Por Mike Stone e Nandita Bose
WASHINGTON (Reuters) - Os Estados Unidos anunciaram nesta sexta-feira que vão enviar à Ucrânia bombas de fragmentação, proibidas por mais de 100 países, como parte de um pacote de assistência de segurança de 800 milhões de dólares, uma medida que a Ucrânia disse ter um "extraordinário impacto psicoemocional" sobre as forças de ocupação russas.
Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional do presidente norte-americano, Joe Biden, procurou justificar o fornecimento dessas armas à Ucrânia pouco antes do Pentágono anunciar formalmente a ajuda.
As também chamadas munições cluster podem impulsionar uma contraofensiva ucraniana para recuperar o território tomado pelas forças russas desde a invasão em fevereiro de 2022.
"Reconhecemos que as munições cluster criam um risco de dano civil devido aos explosivos não detonados", disse Sullivan a repórteres. "É por isso que adiamos a decisão o máximo que pudemos."
"Mas também há um risco enorme de danos civis se tropas e tanques russos passarem por posições ucranianas e tomarem mais território ucraniano e subjugarem mais civis ucranianos, porque a Ucrânia não tem artilharia suficiente", disse ele.
Questionado sobre por que estava fornecendo as bombas de fragmentação agora, Biden disse a repórteres que era porque o esforço de defesa contra a Rússia tinha "ficado sem munição".
As munições cluster normalmente liberam um grande número de pequenas bombas que podem matar indiscriminadamente em uma área ampla. Aquelas que não explodem podem representar um perigo por décadas após o término do conflito. A Ucrânia tem solicitado essas armas para disparar contra posições russas com tropas entrincheiradas.
"A Ucrânia forneceu garantias por escrito de que as usará de maneira muito cuidadosa" para minimizar os riscos aos civis, disse Sullivan, acrescentando que o Conselho de Segurança Nacional dos EUA está unanimemente de acordo em enviar as armas.
Grupos de direitos humanos se opõem à decisão de Washington de fornecer bombas de fragmentação. A Human Rights Watch acusou as forças russas e ucranianas de usar essas armas, que mataram civis.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, é contra o uso contínuo de munições cluster, disse um porta-voz da ONU.
A Alemanha, aliada dos EUA, também se opõe ao envio de munições cluster para a Ucrânia, segundo a ministra das Relações Exteriores alemã, Annalena Baerbock. A Alemanha é um dos 111 Estados que fazem parte da Convenção sobre Munições Cluster, um pacto que não inclui os EUA.
"Contribuição muito significativa"
No passado, a Ucrânia instou os membros do Congresso dos EUA a pressionar o governo do presidente Joe Biden para aprovar o envio de bombas de fragmentação.
"Sem dúvida, a transferência de volumes adicionais de projéteis para a Ucrânia é uma contribuição muito significativa para a aceleração dos procedimentos de desocupação", disse o conselheiro político presidencial Mykhailo Podolyak nesta sexta-feira.
"Especialmente se estivermos falando de munição cluster, que sem dúvida é capaz de ter um impacto psicoemocional extraordinário nos já desmoralizados grupos de ocupação russos", disse ele.
(Reportagem de Mike Stone, Nandita Bose e Steve Holland)