Por Michael Georgy e Ahmed Rasheed
BAGDÁ (Reuters) - Mesmo sem estar empossado, o novo primeiro-ministro iraquiano recebeu o apoio dos Estados Unidos e do Irã, normalmente antagonistas, ao pedir aos líderes políticos que ponham fim às desavenças que permitiram aos jihadistas tomar um terço do país.
Haider al-Abadi ainda enfrenta oposição no país, onde seu colega de partido e também xiita Nuri al-Maliki se recusou a entregar o cargo de premiê após oito anos que alienaram a outrora dominante minoria sunita e afastaram Washington e Teerã.
Mas milícias xiitas e comandantes do Exército leais a Maliki insinuaram apoiar a mudança, assim como muitas pessoas nas ruas de Bagdá, temerosas de um novo mergulho em um banho de sangue sectário e étnico.
Os vizinhos sunitas Turquia e Arábia Saudita também acolheram a indicação de Abadi.
Um comunicado do gabinete de Maliki informou que ele se reuniu com autoridades de alto escalão da segurança e com comandantes da polícia e do exército para exortá-los a "não interferir na crise política".
Pelo menos 17 pessoas foram mortas por dois carros-bomba em áreas xiitas de Bagdá, um tipo de ataque cada vez mais rotineiro nos últimos meses.
Enquanto potências ocidentais e agências internacionais de ajuda cogitam aumentar o auxílio a dezenas de milhares de pessoas expulsas de casa e ameaçadas pelos militantes sunitas do Estado Islâmico perto da fronteira síria, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, disse que os EUA irão estudar os pedidos de assistência militar e de outros tipos assim que Abadi formar um governo de unidade no Iraque.
Destacando a convergência de interesses no Iraque que marca a relação normalmente hostil entre EUA e Irã, autoridades iranianas de alto escalão parabenizaram Abadi por sua indicação três meses após uma eleição parlamentar que deu maioria ao bloco de Maliki. Assim como as potências ocidentais, o Irã xiita está alarmado com o avanço do Estado Islâmico na Síria e no Iraque.
"O Irã apoia o processo legal que tem ocorrido com relação à escolha do novo primeiro-ministro do Iraque", teria dito o representante do líder supremo aiatolá Ali Khamenei ao Conselho Supremo de Segurança Nacional.
Abadi, que passou anos exilado na Grã-Bretanha, é visto como muito menos polarizador e sectário que Maliki, e parece ter a bênção dos poderosos clérigos xiitas iraquianos, uma força influente desde a derrubada do ditador sunita Saddam Hussein em 2003 pelas mãos dos norte-americanos.
A televisão estatal iraquiana disse que Abadi "conclamou todas as forças políticas que acreditam na Constituição e na democracia que juntem esforços e cerrem fileiras para reagir aos grandes desafios do Iraque".
Um político próximo de Abadi afirmou à Reuters que o novo premiê começou a entrar em contato com líderes de grandes grupos para sondá-los a respeito da formação de um novo gabinete. Na segunda-feira, o presidente iraquiano, Fuad Masum, disse esperar que ele o consiga ao longo do próximo mês.
(Reportagem adicional de Raheem Salman, em Bagdá; e de Lesley Wroughton, em Sydney)