Por Humeyra Pamuk
WASHINGTON (Reuters) - Os Estados Unidos pretendem revogar a designação do movimento Houthi como terrorista em resposta à crise humanitária do Iêmen, revertendo uma das mais criticadas decisões de última hora do governo Trump.
A medida, confirmada por uma autoridade do Departamento de Estado na sexta-feira, chega um dia depois de o presidente Joe Biden declarar a interrupção do apoio dos EUA à campanha militar liderada pela Arábia Saudita no Iêmen, que é amplamente vista como um conflito indireto entre os sauditas e o Irã.
“Nossa medida é inteiramente motivada pelas consequências humanitárias desta designação de última hora do governo anterior, que a Organização das Nações Unidas e organizações humanitárias sempre deixaram claro que aceleraria a pior crise humanitária do mundo”, afirmou a autoridade.
O líder dos houthis, Mohamed Ali al-Houthi, disse neste sábado à emissora de TV Al Mayadeen que o grupo soube das recentes declarações do governo dos EUA sobre o Iêmen, mas que ainda não viu nada acontecer na prática.
A ONU descreve o Iêmen como a maior crise humanitária do mundo, com 80% do seu povo passando necessidade.
Mês passado, o chefe de auxílios da ONU alertou que novas sanções levariam o Iêmen à fome em uma escala que não é vista há 40 anos. A fome nunca foi oficialmente declarada, embora indicadores venham se deteriorando pelo país.
“Vemos com bons olhos a intenção declarada do governo dos EUA de revogar a designação porque isso dará um profundo alívio a milhões de cidadãos do Iêmen que dependem de assistência humanitária e importações para ter condições básicas de sobrevivência”, disse o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric.
O ex-secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, colocou os houthis na lista negra em 19 de janeiro, um dia antes de Biden assumir o poder.
O governo Trump isentou grupos de ajuda, a ONU, a Cruz Vermelha e exportadores de commodities agrícolas, medicamentos e dispositivos médicos da sua designação. Mas autoridades da ONU e grupos de ajuda pediram que a designação fosse revogada.
Grupos assistenciais que atuam no Iêmen também saudaram a mudança.
"É um alívio e uma vitória para o povo do Iêmen, e uma mensagem forte dos EUA de que estão colocando os interesses do povo do Iêmen em primeiro lugar”, disse o diretor do país no Conselho Norueguês de Refugiados, Mohamed Abdi, pedindo que o governo Biden pressione por um cessar-fogo nacional imediato.
A fonte do Departamento de Estado sublinhou que a retirada da designação dada por Trump ao grupo não reflete a visão dos EUA sobre os houthis e sua “conduta repreensível”.
Uma coalizão militar liderada pelos sauditas interveio no Iêmen em 2015, apoiando forças do governo lutando contra os houthis, que são alinhados com o Irã. Autoridades da ONU estão tentando reviver as discussões de paz, enquanto o país também enfrenta uma crie econômica e a pandemia de Covid-19.
(Por Humeyra Pamuk, com reportagem adicional de Michelle Nichols e Lisa Barrington)