Por Patricia Zengerle
WASHINGTON (Reuters) - Uma ex-autoridade sênior dos Estados Unidos disse nesta segunda-feira que alertou a equipe do presidente Donald Trump em janeiro sobre o então assessor de segurança nacional Michael Flynn, porque temia que ele pudesse estar suscetível a chantagens da Rússia.
Sally Yates, que assumiu por um breve período interinamente o cargo de secretária da Justiça no início do ano, disse ao conselheiro da Casa Branca Don McGahn em 26 de janeiro que Flynn não estava falando a verdade sobre seus contatos com o embaixador da Rússia em Washington.
Yates, originalmente indicada pelo governo do ex-presidente Barack Obama, disse temer que Moscou pudesse tentar chantagear Flynn porque a Rússia também sabia que ele não estava sendo verdadeiro em relação a conversas com o embaixador Sergei Kislyak sobre sanções norte-americanas contra a Rússia.
Flynn, general da reserva que assessorou a campanha presidencial de Trump, surgiu como figura central em investigações sobre acusações de envolvimento russo na eleição norte-americana de 2016 e possível conspiração entre a campanha de Trump e Moscou. A Rússia negou repetidamente qualquer envolvimento.
Yates disse durante audiência do Subcomitê Judiciário do Senado que estava preocupada que “o assessor de segurança nacional podia essencialmente ser chantageado pelos russos”.
“A lógica vai dizer para vocês não quererem que o assessor de segurança nacional esteja em uma posição onde os russos tenham vantagem sobre ele”, disse.
Trump esperou mais de duas semanas após o aviso antes de demitir Flynn por não divulgar os conteúdos de suas conversas com Kislyak e então induzir o vice-presidente Mike Pence ao erro sobre as conversas.
Obama alertou a Trump, então presidente eleito, a não dar o cargo de assessor de segurança nacional de seu governo para Flynn, disse um ex-assessor de Obama.
O presidente democrata deu o aviso em encontro no Salão Oval com Trump, dois dias após a inesperada vitória eleitoral do republicano em 8 de novembro. O alerta, relatado inicialmente pela NBC News, surgiu durante discussão da equipe da Casa Branca.
O porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, respondendo a relatos do alerta, disse a repórteres: “É verdade que o presidente, presidente Obama, deixou claro que não é exatamente um fã do general Flynn, o que francamente não deve ser uma surpresa para ninguém, dado que o general Flynn trabalhou para o presidente Obama e foi um crítico aberto das deficiências do presidente Obama”.
ACUSAÇÕES SOBRE RÚSSIA
Flynn foi afastado por Obama em 2014 de sua função como diretor da Agência de Inteligência da Defesa (DIA, na sigla em inglês).
Comitês do Congresso começaram a investigar após agências de inteligência dos EUA concluírem que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ordenou ataques hackers contra grupos políticos democratas para tentar levar a eleição a favor de Trump. As agências disseram que a Rússia estava por trás de relatos falsos, “fake news”, que foram disseminados nas redes sociais.
A investigação do Subcomitê Judiciário do Senado é uma das três principais investigações do Congresso sobre a Rússia e a eleição norte-americana de 2016. O FBI e agências de inteligência dos EUA estão conduzindo investigações distintas.
Horas antes da audiência desta segunda-feira no Senado, Trump insinuou que Yates havia vazado informações sobre Flynn para a mídia.
“Perguntem a Sally Yates, sob juramento, se ela sabe como informações confidenciais chegaram aos jornais logo após ela explicá-las ao Conselho da Casa Branca”, escreveu Trump em publicação no Twitter.
Trump demitiu Yates no final de Janeiro após ela desafiar a Casa Branca e se recusar a defender restrições de viagens que tinham como alvo sete países de maioria muçulmana, uma política que Trump dizia poder ajudar a proteger norte-americanos contra o Estado Islâmico e outros grupos militantes islâmicos.