Por Raya Jalabi e Alissa de Carbonnel
BAGDÁ/BRUXELAS (Reuters) - Forças dos Estados Unidos transferiram em sigilo ao menos 30 combatentes estrangeiros suspeitos do Estado Islâmico capturados na Síria no ano passado e no final de 2017 para serem julgados no Iraque, de acordo com entrevistas com os suspeitos, fontes iraquianas e documentos judiciais.
Entre os suspeitos, três deles foram condenados à morte por tribunais iraquianos por serem filiados ao grupo, e cinco receberam penas de prisão perpétua. Quatro deles disseram à Reuters que foram torturados na prisão, uma afirmação que a Reuters não conseguiu verificar.
O Serviço de Contraterrorismo do Iraque (CTS) negou que os detidos foram transferidos da Síria para sua custódia em 2017 e 2018 e refutaram as alegações de tortura dos detidos.
Embora o destino de milhares de combatentes do Estado Islâmico capturados na Síria continue incerto, os cerca de 30 jihadistas estrangeiros suspeitos foram transferidos ao Iraque em 2017 e 2018 depois de serem capturados pelas Forças Democráticas da Síria (FDS), que têm apoio dos EUA, segundo autos do Iraque, registros de detenção dos EUA, fontes judiciais e de inteligência e pessoas a par do assunto.
O Comando Central dos militares dos EUA, que supervisiona as forças norte-americanas no Oriente Médio, não quis comentar as descobertas da Reuters, mas reconheceu os desafios representados pelos detidos capturados por milícias curdas, cuja autoridade não é reconhecida internacionalmente.
"A questão dos combatentes terroristas estrangeiros sob custódia das FDS na Síria é um problema extremamente complexo", disse seu porta-voz, capitão Bill Urban.
Os EUA querem que os países assumam a responsabilidade por seus combatentes estrangeiros por meio de "processos, programas de reabilitação ou outras medidas que impeçam suficientemente que os detidos voltem a se envolver com o terrorismo", disse ele.
Oito homens da Bélgica, França, Alemanha, Austrália, Egito e Marrocos condenados por seu envolvimento com o Estado Islâmico foram entrevistados pela Reuters ao comparecerem perante as cortes iraquianas.
Eles disseram que, depois de serem capturados na Síria por forças das FDS auxiliadas pelos EUA, foram interrogados pelas FDS e por forças norte-americanas sobre seus papéis no Estado Islâmico. Eles afirmaram que foram mantidos, a maioria em solitárias, em bases militares dos EUA na região do Curdistão iraquiano ou na Jordânia e depois entregues à custódia do Iraque.
O presidente dos EUA, Donald Trump, está pressionando nações europeias para que recebam de volta seus cidadãos que estão entre os mais de 2 mil supostos combatentes estrangeiros capturados durante as batalhas finais para destruir o autodeclarado califado do grupo na Síria no início deste ano.
(Reportagem adicional de Phillip Stewart e Lesley Wroughton, em Washington; Ahmed Rasheed, em Bagdá; Sabine Siebold, em Berlim; e Francois Murphy, em Viena)