Por Marianna Parraga
CIDADE DO MÉXICO (Reuters) - O presidente venezuelano Nicolás Maduro está canalizando o fluxo de caixa das vendas de petróleo do país através da estatal de energia russa Rosneft, à medida que busca evitar as sanções dos Estados Unidos, projetadas para retirá-lo do poder, de acordo com fontes e documentos vistos pela Reuters.
As vendas são o mais recente sinal da crescente dependência do governo venezuelano da Rússia em meio à crise financeira do país, conforme os EUA apertam um laço econômico ao redor de Maduro, que os norte-americanos descrevem como um ditador.
Com a economia em frangalhos por anos de recessão e um substancial declínio na produção de petróleo, a Venezuela já vinha lutando para financiar importações e gastos governamentais antes mesmo de Washington impor restrições à petroleira estatal PDVSA em janeiro.
O petróleo representa mais de 90 por cento das exportações que partem da nação da Opep e a maior parcela de receitas do governo. Maduro acusou o presidente dos EUA, Donald Trump, de promover uma guerra econômica contra a Venezuela.
Desde janeiro, o governo Maduro vem em negociações com aliados em Moscou a respeito de maneiras para contornar a proibição a clientes que pagam a PDVSA em dólar, disseram as fontes. A Rússia afirmou publicamente que as sanções norte-americanas são ilegais e que trabalharia com a Venezuela para enfrentá-las.
Sob o esquema descoberto pela Reuters, a estatal venezuelana PDVSA começou a repassar faturas de suas vendas de petróleo para a Rosneft.
A gigante da energia russa paga à PDVSA imediatamente, com um desconto sobre o preço da venda --evitando o período comum de 30 a 90 dias para a conclusão de transações petrolíferas-- e recebe depois a quantia total do comprador, segundo os documentos e fontes.
"A PDVSA está entregando suas contas a receber para a Rosneft", disse uma fonte da empresa venezuelana com conhecimento dos acordos, que falou sob condição de anonimato por temer retaliações.
Grandes empresas de energia como a indiana Reliance --maior cliente da PDVSA com pagamentos em dinheiro-- foram convidadas a participar do esquema, pagando à Rosneft pelo petróleo venezuelano, mostraram os documentos.
A Rosneft, que tem investido fortemente na Venezuela sob o governo do presidente Vladimir Putin, não respondeu imediatamente a um pedido por comentários.
A PDVSA, o Ministério do Petróleo e o Ministério da Informação da Venezuela, que responde ao setor de mídia pelo governo, não responderam questões enviadas pela Reuters.
Perguntado sobre as transações, um porta-voz da Reliance afirmou que a empresa fez pagamentos à Rússia e a companhias chinesas, que foram deduzidos de valores devidos pela Venezuela a esses países.
O diretor financeiro da Reliance, Srikanth Venkatachari, confirmou a jornalistas nesta quinta-feira os pagamentos por meio de empresas russas e chinesas, mas não deu maiores detalhes.
Estamos em diálogo ativo com o Departamento de Estado dos EUA a respeito de nossas negociações por petróleo venezuelano, para permanecer em conformidade com as sanções norte-americanas", disse ele.
(Reportagem de Marianna Parraga na Cidade do México, com reportagem adicional de Luc Cohen em Caracas, Nidhi Verma em Nova Délhi e Julia Payne em Londres)