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Exilados de guerra russos levam banyas e blinis para a América Latina

Publicado 16.03.2024, 12:20

Por Lucinda Elliott e Miguel Lo Bianco

BUENOS AIRES (Reuters) - Quando Ilia Gafarov e Nadia Gafarova fizerem a grande inauguração de sua "banya", uma sauna russa tradicional, em abril, eles esperam que isso ajude a tornar Buenos Aires, sua cidade adotiva, um lar permanente.

O casal, ex-banqueiro e recrutador da cidade portuária de Vladivostok, no leste da Rússia, mudou-se para a Argentina com suas duas filhas há nove meses, parte de uma onda de migração da Rússia para a América Latina após a invasão da Ucrânia em 2022.

Os Gafarovs disseram que pretendem investir uma grande parte de suas economias na empresa e solicitar a cidadania quando se tornarem elegíveis no final do próximo ano.

"A comunidade russa cresceu significativamente enquanto estivemos aqui, e uma banya é algo que eles também querem", disse Ilia, que também citou a demanda dos habitantes locais preocupados com a saúde.

À medida que a guerra da Rússia na Ucrânia entra em seu terceiro ano, um número cada vez maior de famílias russas está criando raízes na América Latina, de acordo com dados de aprovação de vistos de residência de cinco países, não relatados anteriormente, e entrevistas com uma dúzia de exilados e especialistas.

Argentina, México, Brasil, Uruguai e Paraguai concederam residência temporária ou permanente no ano passado a um total de quase 9.000 russos, mostram os dados, em comparação com pouco mais de 1.000 em 2020.

Alguns, como os Gafarovs, estão deixando uma marca em suas cidades de adoção. A família também cozinha pratos tradicionais russos, como blini, para se sentir em casa.

Os exilados e os especialistas citaram as regras de visto permissivas da América Latina e os caminhos mais fáceis para a cidadania, os estilos de vida acessíveis, o bom clima e a relativa ambivalência em relação às sanções internacionais como os principais atrativos para os cidadãos russos que buscam escapar da guerra e de seus impactos na economia -- apesar da distância geográfica.

REGIMES DE VISTO TOLERANTES

Ao contrário da Europa e dos Estados Unidos, a maioria dos países da América do Sul não exige visto de visitante para cidadãos russos, e a prorrogação da estadia normal de 90 dias geralmente é simples. Embora a maioria dos países da região tenha condenado a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022, nenhum deles enviou ajuda ou armas para Kiev.

"A América Latina era um experimento para os russos há dois anos, agora os que viajam para o continente vêm com a intenção de ficar", disse Vladimir Rouvinski, cientista político da Universidade ICESI da Colômbia.

A Argentina foi o principal destino na região para os emigrantes russos, de acordo com os dados do governo, emitindo 3.750 vistos de residência para cidadãos russos em 2023, mais de dez vezes o número antes do início da guerra e da pandemia que reduziu as viagens globais em 2020. Somente em janeiro deste ano, foram mais de 500.

O México concedeu autorizações de residência a 3.231 russos no ano passado, três vezes mais do que em 2021, de acordo com dados do governo.

E o Brasil concedeu residência a cerca de 1.000 cidadãos russos no ano passado, ante 400 em 2021.

Em bate-papos em grupo no aplicativo de mensagens Telegram, a Reuters viu emigrantes russos em toda a América Latina compartilhando dicas sobre como comprar propriedades, abrir negócios, encontrar jardins de infância e solicitar residência.

A ADAPTAÇÃO É UM PROCESSO

Quando Tatiana Kalabukhova, de 36 anos, originária de Rostov-on-Don, perto da fronteira ocidental da Rússia com a Ucrânia, mudou-se para a Cidade do México com seu parceiro em dezembro do ano passado, ela nunca imaginou os lembretes diários da cultura russa que encontraria no bairro que adotou, como o Jardim Pushkin, nomeado em homenagem ao poeta Alexander Pushkin, onde ela leva seu filho para brincar.

Kalabukhova, consultora de negócios, obteve residência temporária que planeja estender, mas admite que sua família "ainda está em processo" de adaptação ao novo lar e do aprendizado do espanhol, depois de vários anos vivendo nos Estados Unidos.

"Quando me mudei dos Estados Unidos para cá, me senti mais à vontade porque a vida aqui é mais tranquila", disse ela.

Alguns russos que vivem ou visitam partes dos Estados Unidos e da Europa relataram ter enfrentado sentimentos antirrussos desde a invasão da Ucrânia por Moscou.

Os migrantes com quem a Reuters conversou disseram que, embora houvesse obstáculos para fazer transações com bancos russos, eles podem recorrer a criptomoedas e a cartões bancários chineses, como o UnionPay, que estão disponíveis na Rússia e são aceitos em 12 países latino-americanos, incluindo Argentina, Brasil e México.

A Argentina e o Brasil se tornaram destinos populares entre as gestantes russas há dois anos, devido às regras de cidadania automática para recém-nascidos.

Mas isso se expandiu para empresários e famílias, em parte devido às mudanças no sistema de recrutamento da Rússia no ano passado, que tornaram mais difícil evitar ser convocado para o serviço militar. A legislação entrou em vigor em janeiro deste ano.

Um ex-policial de 30 e poucos anos de Yekaterinburg, que pediu anonimato por medo de represálias, disse que ele e sua esposa dirigiram até a fronteira do Cazaquistão seis horas após o anúncio da primeira convocação para o serviço militar, pois temiam ser convocados.

Ele disse que o casal se mudou para o Brasil depois de saber que sua esposa, que tem formação médica, estava grávida.

Outros fugiram por causa da repressão política e dos impactos econômicos da guerra, disse a russa Helena Yaw, que se mudou para Florianópolis com o marido em 2019 e que recentemente recebeu a companhia do irmão.

"As pessoas estão comprando tudo o que encontram para investir seus rublos, que se desvalorizam rapidamente", disse Yaw.

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