Por Max Hunder e Jonathan Landay
KIEV (Reuters) - Uma poderosa explosão de um caminhão danificou gravemente neste sábado a ponte rodoviária e ferroviária que liga a Rússia à Crimeia, atingindo um símbolo de prestígio da anexação da península por Moscou e a principal rota de abastecimento para as forças russas que lutam para manter o território capturado no sul da Ucrânia.
A explosão na ponte sobre o Estreito de Kerch, pela qual a Rússia não atribuiu a culpa imediatamente, gerou mensagens de satisfação por parte de autoridades ucranianas, mas nenhuma reivindicação direta de responsabilidade pelo incidente.
Autoridades russas disseram que três pessoas morreram, provavelmente ocupantes de um carro que passava perto do caminhão que explodiu.
A Rússia capturou a Crimeia da Ucrânia em 2014 e a ponte Kerch, de 19 quilômetros e que conecta a rede de transporte da Rússia, foi aberta com grande alarde quatro anos depois pelo presidente russo, Vladimir Putin, que dirigiu um caminhão de construção por ela.
A ponte atualmente representa uma importante artéria para as forças russas que assumiram o controle da maior parte da região de Kherson, no sul da Ucrânia, e para o porto de Sebastopol, cujo governador disse aos moradores locais: "Mantenha a calma. Não entre em pânico."
Ainda não está claro se a explosão foi um ataque deliberado, mas os danos a essa infraestrutura ocorreram em um momento em que a Rússia sofreu várias derrotas no campo de batalha e pode obscurecer ainda mais as mensagens do Kremlin de garantia ao público de que o esforço de guerra está ocorrendo como o planejado.
A explosão também ocorreu um dia depois do aniversário de 70 anos de Putin.
O chefe do Conselho Nacional de Segurança e Defesa da Ucrânia, Oleksiy Danilov, publicou um vídeo da ponte em chamas nas redes sociais ao lado de um vídeo de Marilyn Monroe cantando "Feliz aniversário, Senhor Presidente."
Desde o início da guerra em 24 de fevereiro, as autoridades ucranianas têm feito alusões regulares ao desejo de destruição da ponte, vista na Ucrânia como um símbolo da ocupação russa da Crimeia. O serviço postal da Ucrânia disse no sábado que imprimirá um selo especial para comemorar a explosão.
O Ministério da Defesa da Rússia disse em um comunicado que suas forças no sul da Ucrânia podem ser "totalmente supridas" por meio de rotas terrestres e marítimas existentes, e o Ministério dos Transportes disse que o tráfego ferroviário pela ponte será retomado neste sábado.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, disse que a reação de Kiev à destruição da infraestrutura civil "é um testemunho de sua natureza terrorista".
O Comitê Nacional Antiterrorismo da Rússia disse que um caminhão de carga explodiu na estrada da ponte às 6h07 (meia noite no horário de Brasília), fazendo com que sete vagões-tanque pegassem fogo em um trem que se dirigia para a península no nível superior da ponte.
O órgão afirmou que dois vãos da ponte rodoviária desmoronaram parcialmente, mas que o arco que atravessa o Estreito de Kerch, a via navegável por onde os navios viajam entre o Mar Negro e o Mar de Azov, não foi danificado.
Imagens publicadas pelo Comitê de Investigação da Rússia mostraram metade da estrada da ponte destruída e a outra metade ainda presa, mas rachada. Outras imagens feitas à distância mostraram fumaça espessa saindo de parte da ponte.
Um assessor do presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, publicou no Twitter mensagem que afirma que o incidente foi apenas "o começo", mas não chegou a dizer que as forças ucranianas foram responsáveis pela explosão.
"Tudo o que é ilegal deve ser destruído, tudo o que é roubado deve ser devolvido à Ucrânia, tudo o que é ocupado pela Rússia deve ser expulso", escreveu Mykhailo Podolyak.
Neste sábado, centenas de pessoas que esperavam deixar a península foram redirecionadas para o porto de balsas na cidade de Kerch, apenas para descobrirem que ventos fortes estavam impedindo qualquer travessia.
Kirill Stremousov, o vice-administrador russo da região de Kherson, disse que o incidente da ponte "não afetará muito o suprimento do exército".
"Mas haverá problemas de logística para a Crimeia", acrescentou ele em uma mensagem em redes sociais.
Mykola Bielieskov, do Instituto Ucraniano de Estudos Estratégicos, que assessora a presidência em Kiev, disse que a ponte de Kerch é insubstituível para as forças de invasão russas e, se for cortada, "toda a frente sul russa desmoronará rápida e facilmente".