Por Sudip Kar-Gupta e Sophie Louet
PARIS (Reuters) - O ex-presidente francês Jacques Chirac, um camaleão político que dominou a política da França durante décadas e lutou para que a voz de seu país fosse ouvida na Europa e além, morreu nesta quinta-feira, aos 86 anos.
Chirac foi presidente de 1995 a 2007. Ele forjou seu estilo nos moldes do líder do pós-guerra Charles de Gaulle, empenhando-se em fortalecer a posição da França na arena mundial.
A Assembleia Nacional interrompeu os trabalhos para fazer um minuto de silêncio. O presidente francês, Emmanuel Macron, cancelou um compromisso público e programou um pronunciamento a ser televisionado ainda nesta quinta-feira.
Chirac faleceu pacificamente, cercado por seus entes queridos, disse Frédéric Salat-Baroux, seu genro, à Reuters.
Prefeito de Paris durante 18 anos e primeiro-ministro para presidentes de esquerda e direita antes de ele mesmo ocupar o Palácio do Eliseu, Chirac tinha o dom de se conectar com os eleitores, particularmente na França rural.
"Jacques Chirac soube como criar um elo pessoal com o povo francês", disse o ex-presidente socialista François Hollande. "A França estava em seu sangue. Ele explorou cada canto, provou cada iguaria local."
Ele será lembrado por sua oposição desafiadora à invasão norte-americana do Iraque, uma campanha militar durante a qual o relacionamento de Chirac com o então premiê britânico, Tony Blair, azedou e atingiu seu pior momento.
Blair disse ter ficado profundamente entristecido com o falecimento de Chirac.
"Ele foi uma figura imponente das políticas francesa e europeia ao longo de muitas décadas. Quaisquer que fossem nossas diferenças de tempos em tempos, ele sempre era infalivelmente gentil, generoso e pessoalmente solícito", disse Blair em um comunicado.
Na Europa, Chirac se tornou um dos principais porta-estandartes da União Europeia. Ele criou uma aliança com o chanceler alemão Gerhard Schroeder que aproximou mais as duas potências europeias tradicionais, mas aborreceu alguns de seus parceiros no bloco.
Em dezembro de 2012, cinco anos após deixar a Presidência, Chirac foi considerado culpado por abusar dos fundos públicos quando foi prefeito de Paris, o que fez dele o primeiro chefe de Estado condenado desde o marechal Philippe Pétain, um colaborador nazista, em 1945.
Mas ele não passou nenhum tempo na prisão, e o drama quase não arranhou sua imagem – o que lhe rendeu o apelido "Houdini", uma referência à sua capacidade de escapar de punições graves.