Por Hanna Rantala
VENEZA (Reuters) - "Spotlight", que tem Michael Keaton e Mark Ruffalo como repórteres que investigam para o jornal Boston Globe a pedofilia entre padres católicos romanos, aborda somente uma fração do comportamento sexual predatório existente dentro da Igreja, disse seu diretor.
Notícias sobre o comportamento sexual inadequado do ex-apresentador britânico Jimmy Savile e de outras personalidades famosas são uma indicação do alcance global do problema, e das falhas em se lidar com ele, afirmou o cineasta Tom McCarthy antes da exibição de seu filme, nesta quinta-feira, no Festival de Cinema de Veneza.
"Esses momentos em que sabemos que as pessoas fizeram coisas erradas e nós, como sociedade, nós não os enfrentamos. Isso leva anos e anos e anos, e a pergunta é ‘por quê'? Por que leva tanto tempo?", disse McCarthy em uma entrevista na quarta-feira.
A equipe de jornalistas do Boston Globe retratada no filme expôs décadas de ataques perpetrados por padres da Arquidiocese de Boston que molestaram meninos e meninas. Em vez de serem denunciados à polícia, eles receberam aconselhamento e foram transferidos para outra paróquia. A exposição do caso levou à renúncia, em 2002, do cardeal de Boston Bernard Law.
O filme foca no processo pelo qual os jornalistas rastrearam e confrontaram alguns dos padres envolvidos. Eles entrevistaram vítimas que décadas depois ainda estavam traumatizadas e perturbadas pelos abusos, e provaram que a Igreja Católica Romana possuía uma política de pagar às vítimas para ficarem caladas e evitarem polêmicas ao tornarem seus casos públicos.
McCarthy disse duvidar que a Igreja tenha feito uma reforma profunda, apesar de algumas concessões terem sido feitas às autoridades judiciais, com o eventual fornecimento de registros eclesiásticos.
"Ainda há casos na Igreja, certo? O novo papa (Francisco) acaba de designar uma corte junto com o cardeal (Sean Patrick) em Boston para supervisionar tais casos, mas a Snap (uma associação de vítimas) e todos essas diferentes organizações estão dizendo que não é o suficiente, pois se apontou uma corte interna, e não vamos obter justiça com isso", disse McCarthy.