Por Michelle Martin
BERLIM (Reuters) - O diretor Erik Poppe diz que seu filme mais recente é parte do processo de cura iniciado após um dos acontecimentos mais traumáticos da Noruega – o massacre de 69 pessoas, a maioria adolescentes, em um campo para jovens na ilha de Utoya.
"U-July 22", que está estreando no Festival Internacional de Cinema de Berlim, reconta o ataque a tiros de um atirador de extrema-direita no dia 22 de julho de 2011. Filmado em uma ilha próxima de Utoya em uma tomada, ele acompanha "Kaja", uma personagem adolescente fictícia, enquanto ela foge por selvas, praias e mar para salvar a vida.
O espectador a vê procurando desesperadamente sua irmã mais nova, confortando um adolescente moribundo e cantando para si mesma enquanto se esconde em um despenhadeiro. É possível ouvir tiros, mas o atirador mal é visível à distância.
Poppe disse que algumas pessoas criticaram seu filme por ter surgido cedo demais, mas jovens sobreviventes do ataque lhe disseram para não esperar.
"Eu diria que, se não doer assistir a este filme, é tarde demais, então diria com certeza que é duro, mas que também é parte do processo de cura", disse Poppe em uma coletiva de imprensa.
"Decidimos fazer ficção por razões éticas, para que pais, irmãs e irmãos não precisem ver e pensar: será que é minha irmã ou meu irmão? Será que é minha filha?", explicou, acrescentando que psicólogos estavam na locação para ajudar os atores e moradores da ilha onde o filme foi rodado.
"Olhando a Europa hoje, percebendo que o neofascismo está crescendo dia a dia, precisamos lembrar do que aconteceu naquela ilha, que cara tem o extremismo de direita".
A sobrevivente Ingrid Marie Vaag Endrerud disse na coletiva de imprensa que a história do filme é uma que muitos noruegueses acham impossível de contar.
"Quando tento explicar o que vivi, só consigo contar me distanciando, e é aí que o cinema e a arte do cinema conseguem contar uma história de uma maneira que escrever ou falar não conseguem", disse.