Por Nidal al-Mughrabi e Maayan Lubell
FRONTEIRA DE GAZA (Reuters) - Tropas israelenses mataram dezenas de palestinos que participaram de manifestações na fronteira com Gaza nesta segunda-feira, dia em que os Estados Unidos inauguraram sua embaixada em Jerusalém.
No dia mais sangrento para palestinos desde 2014, autoridades do Ministério da Saúde palestino disseram que 58 manifestantes foram mortos e 2.700 ficaram feridos por armas de fogo, gás lacrimogêneo ou outros meios.
A medida dos EUA cumpre uma promessa do presidente Donald Trump, que reconheceu a cidade sagrada como capital de Israel, mas gerou revolta entre palestinos e críticas de muitos governos estrangeiros por ser um retrocesso nos esforços de paz.
Na cerimônia de inauguração da embaixada, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, agradeceu Trump por "ter a coragem de manter suas promessas".
"Que dia glorioso para o povo de Israel e o Estado de Israel", disse Netanyahu em discurso. "Estamos em Jerusalém e estamos aqui para ficar."
Em uma mensagem gravada, Trump disse que continua comprometido com a paz entre Israel e os palestinos.
A França pediu a Israel que mostre contenção e o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterrres, disse que estava "profundamente preocupado" com os eventos em Gaza.
A Casa Branca não quis se juntar aos esforços que pediam para que Israel exercesse cautela e colocou a culpa sobre o grupo Hamas, que controla Gaza, apoiando o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu que descreveu as ações militares de Israel como auto-defesa das fronteiras de seu país.
Centenas de milhares de palestinos foram à fronteira por terra do enclave costeiro, alguns se aproximando da cerca com Israel - uma linha que líderes israelenses dizem que palestinos não têm permissão para cruzar. Colunas de fumaça negra de pneus incendiados pelos manifestantes subia pelos ares na fronteira.
Manifestantes, alguns armados com estilingues, atiraram pedras na direção das forças de segurança de Israel, que dispararam gás lacrimogêneo e intensas rodadas de tiros.
"Hoje é o grande dia em que cruzaremos a cerca e diremos a Israel e ao mundo que não aceitaremos ser ocupados para sempre", disse Ali, professor de ciências em Gaza que não quis informar o sobrenome.
As mortes mais recentes elevaram o saldo de vítimas palestinas a 103 desde que os protestos começaram há seis semanas. Não há registro de baixas em Israel.
As mortes atraíram críticas internacionais, mas os EUA, que revoltaram os palestinos e potências árabes transferindo sua embaixada de Tel Aviv para Jerusalém, ecoaram Israel acusando o Hamas, o movimento que controla Gaza, de instigar a violência, uma alegação que o grupo nega.
Mais tarde nesta segunda-feira, líderes israelenses e uma delegação que inclui o secretário do Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin, e a filha e o genro do presidente Donald Trump, Ivanka Trump e Jared Kushner, compareceram à abertura da embaixada.
O enviado de Trump ao Oriente Médio, Jason Greenblatt, disse no Twitter que "tomar a atitude longamente adiada de transferir nossa embaixada não é uma ruptura com nosso forte comprometimento de facilitar um acordo de paz duradouro. Ao contrário, é uma condição necessária para ele".
Mas o premiê palestino, Rami Hamdallah, disse que o reconhecimento de Trump de Jerusalém como a capital de Israel em dezembro e a transferência da representação são "violações escandalosas da lei internacional".
Os palestinos, que querem seu próprio Estado futuro com uma capital em Jerusalém Oriental, ficaram revoltados com a ruptura de Trump com a preferência de outras gestões norte-americanas de manter a representação dos EUA em Tel Aviv à espera de progressos nos esforços de paz.
Essas conversas foram interrompidas em 2014. Outras grandes potências receiam que a medida dos EUA inflame protestos de palestinos na Cisjordânia ocupada, que Israel capturou, assim como Jerusalém Oriental, na Guerra dos Seis Dias de 1967.